Após andarem uma distância de quase 600 km, cerca de mil índios bolivianos que vivem na Amazônia caminham nesta terça-feira (18) os últimos 38 km antes de chegar a La Paz, capital do país, onde querem mostrar ao presidente Evo Morales que não estão de acordo com a construção de uma rodovia que vai atravessar a floresta e o território onde moram.
A construção da estrada, que custará US$ 420 milhões e pretende ligar os oceanos Pacífico e Atlântico, conta com financiamento do Brasil por meio do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico Social (BNDES). A obra será feita pela companhia brasileira OAS.
Os índios saíram em 15 agosto da cidade de Trinidad, encravada na floresta amazônica, e caminham desde então em um ritmo constante, mesmo debaixo de sol forte e enfrentando a altitude de 3.600 metros, na região próxima à capital.
O protesto já sofreu repressão policial, o que fez a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) da Organização dos Estados Americanos (OEA) intervir para que os indígenas sejam protegidos e não vítimas de violência.
O grupo saiu às 8h de Pongo (a 38 km de La Paz) e vai caminhar até Urujara (a 10 km de La Paz). Na manhã desta quarta-feira (19), os manifestantes sairão cedo novamente e deverão alcançar a sede do governo boliviano.
Apoio – Eles contam com a ajuda de ambientalistas e ativistas de outros setores, e juntos deverão realizar uma cerimônia andina próximo ao local onde fica o presidente.
“O governo vai demonstrar amanhã se tem essa vontade (de atender a uma lista de reivindicações com 16 pontos, entre os quais estão a suspensão do projeto da rodovia)”, disse Fernando Vargas, um dos líderes da caminhada.
“Vamos também à Catedral, onde seremos recebidos pela igreja Católica com uma missa solene. Acredito que o presidente vai nos atender em algum momento”, complementou.
Eles esperam que Morales “demonstre uma vontade pessoal e do governo” para conversar sobre a suspensão definitiva do projeto rodoviário.
Suspensão – Na última semana, a Assembleia Plurinacional da Bolívia aprovou uma lei que suspende as obras da rodovia até que os moradores da região afetada aprovem a iniciativa.
A suspensão temporária, que confirma uma decisão prévia do presidente Evo Morales, foi aprovada pela ampla maioria governista antes da realização de uma eleição que era considerada como um plebiscito sobre a gestão dele.
A decisão não surtiu efeito, já que no último domingo o plebiscito foi sua pior derrota eleitoral em quase seis anos de governo. Uma avalanche de votos nulos em uma histórica eleição de juízes nacionais
Se as projeções extraoficiais forem confirmadas, essa terá sido a primeira derrota de Morales – o primeiro indígena a ocupar o cargo de presidente na Bolívia – em quase seis anos no poder. Mas o presidente, que dias antes se vangloriava de haver obtido seis vitórias consecutivas nas urnas, não admitiu publicamente a derrota. Ele considerou a eleição válida e afirmou que o resultado mostra a “nova justiça para a Bolívia”. (Fonte: Globo Natureza)