Os falcões, há muito usados para a caça no Oriente Médio e um símbolo de status na região, agora estão sendo adaptados para um problema mais corriqueiro: o controle de pragas.
O aço e o vidro brilhantes dos arranha-céus de Abu Dhabi e Dubai, nos Emirados Árabes, onde apenas existia deserto há poucas décadas atrás, aliados à longa tradição de criação de aves de rapina, fez a falcoaria voltada ao controle de pragas um próspero negócio.
Os proprietários dos edifícios tentam impedir pombos de fazerem ninhos e sujarem suas fachadas. “Os pombos são ratos voadores, eles chegam e fazem seus ninhos”, diz o falcoeiro Richard Ellis.
“É uma maneira ecológica de usar falcões para controlar as populações de pombos”, diz ele, enquanto coloca capuzes sobre as cabeças de seus pássaros como parte dos preparativos para transportá-los para uma nova zona infestada.
Real Shaheen, uma empresa de falcoaria baseada no emirado de Ras al-Khaimah, faz até a metade de sua receita de controle de pragas na Ilha Sir Bani Yas, um destino turístico onde os animais selvagens importados passeiam por um parque de safári.
Alguns dos falcões são capazes de mergulhar a velocidades de mais de 320 km/h. Eles não matam os pombos, mas são usados para assustá-los e deixá-los longe de locais públicos.
Ainda assim, nem todos aprovam o uso de um pássaro que é tão amplamente reverenciado no Golfo para fins pouco nobres.
Há séculos, os beduínos da região usam falcões – “saqr”, em árabe – para caçar carne no inverno, quando os únicos alimentos disponíveis eram tâmaras, leite de camelo e pão. É o símbolo nacional dos sete Emirados Árabes Unidos, impresso em placas de trânsito e na moeda nacional.
O falcoeiro Mohammed Salem al-Kabi, que mantém 17 falcões na cidade oásis no deserto de Al Ain, acredita que usar falcões como controladores de pragas é algo desmerecedor para uma ave tão majestosa.
“Existem formas mais eficientes, tais como comprimidos para deixar os pombos sonolentos, ou o ultrassom para afastá-los”, afirma Kabi. Ele se reúne com os seus amigos em uma tenda com ar condicionado e uma TV de tela plana na parede mostrando a caça de falcões.
Em todo o mundo, no entanto, como na Piazza San Marco, em Veneza, ou a Trafalgar Square, em Londres, famosas por suas grandes populações de pombos, falcões já foram implantados para controlar as aves indesejadas.
“Cerca de 25 empresas no Reino Unido usam falcões para controle de pragas, e há muitas em todo o mundo, então claramente isso funciona e é rentável”, diz Nick Fox, diretor da Wildlife Consultants International Limited, no País de Gales.
Negócio próspero – David Stead, proprietário da Al Hurr Falconry Services nos Emirados Árabes Unidos, diz que seu negócio está decolando: “O mercado é enorme, há espaço para mais. Não vamos pisar uns nos dedos dos outros.”
“Voamos em todos os seus hotéis, Burj Al Arab, Emirates Towers, Madinat Jumeirah”, diz ele a respeito de seu maior cliente, o um grupo hoteleiro de luxo de Dubai.
Nos Emirados Árabes, o Aeroporto Ras al-Khaimah, a Universidade de Al Ain, bem como hotéis em Fujairah, todos demonstraram interesse em empregar falcões, diz o diretor da Shaheen Real, Peter Bergh.
Por 40 falcões, os preços variam de 40 mil dirhams (US$ 10.890) até 70.000 dirhams por mês.
Comércio ilegal – O crescente interesse em usar as aves para negócios, bem como um passatempo, tem criado um outro problema. Alguns falcoeiros preferem espécimes selvagens, o que impulsionou o comércio ilegal da espécie.
“Com o desmembramento da URSS em 1993, grandes áreas da Ásia foram abertas para captura, algumas das quais através de cotas legais, como na Mongólia, mas uma parte é ilegal”, Fox disse.
“A China e o Cazaquistão costumavam ter uma cota de exportação, mas pararam o comércio nos últimos anos. A falta de fontes legais fez com que grande parte fosse para a clandestinidade e por isso continua ilegalmente”, disse ele.
A caça de animais selvagens, incluindo falcões, nos Emirados Árabes Unidos, foi proibida em 1978, diz Hamiri. A declaração de uma nova lei em 2002 para regular o comércio de espécies ameaçadas e falcões tem diminuído drasticamente o comércio ilegal. (Fonte: G1)