Uma pesquisa feita com quase 600 biólogos especialistas em biodiversidade no mundo todo revelou que a maioria deles já considera que algo antes impensável pode ser necessário: “desligar os aparelhos” de certas espécies ameaçadas.
Assim como médicos militares precisam fazer escolhas difíceis sobre quais feridos tratar primeiro, 60% dos biólogos ouvidos no levantamento acham que, como não vai ser possível salvar todas as espécies em risco de extinção, é melhor começar a pensar em critérios de triagem.
O resultado foi obtido por Murray Rudd, da Universidade de York, e está em artigo na revista científica “Conservation Biology”.
Rudd ouviu cientistas que costumam publicar artigos em revistas especializadas na área de biologia da conservação, com estudos publicados de 2005 a 2010 (o que significa que estão na ativa).
Os mais vulneráveis – Ainda não há consenso sobre como decidir que espécies priorizar, embora boa parte dos biólogos ouvidos (41,7%) concorde com a ideia de que as espécies e os ecossistemas mais vulneráveis deveriam receber os maiores níveis de investimento.
De qualquer maneira, a maioria dos especialistas da área também concorda com a seguinte afirmação: “Inevitavelmente, é preciso fazer escolhas duras sobre desistir de algumas espécies”.
Os biólogos justificam a decisão dizendo que, se critérios objetivos sobre que espécies salvar não forem estabelecidos logo, as extinções vão acabar acontecendo de qualquer jeito, e o risco de consequências funestas para a biodiversidade será maior ainda.
Por outro lado, ainda há relutância em relação à ideia de levar em conta o valor econômico das espécies como justificativa para sua preservação.
Além do nível de ameaça, a razão preferida para privilegiar o salvamento de determinada espécie é a importância dela para as relações ecológicas numa região (se ela é um predador que controla a população de vários outros bichos ou uma planta muito comida, digamos).
Rudd diz ter bolado a pesquisa como uma maneira de avaliar qual era o consenso entre os especialistas a respeito da gravidade da crise de biodiversidade atual.
A resposta foi acachapante: quase 100% dos entrevistados acha que uma perda séria de biodiversidade planetária é “provável”, “muito provável” ou “virtualmente certa”. É um consenso científico ainda mais forte do que existe em torno da realidade do aquecimento global.
A atual crise de desaparecimento de espécies já tem até nome: a Sexta Extinção. O título é uma referência às outras cinco grandes extinções em massa que ocorreram na história da Terra, como a que dizimou os dinossauros há 65 milhões de anos.
Também é forte a percepção entre os especialistas de que as estratégias atuais para salvar a biodiversidade não estão funcionando bem.
Mais de 80% concordam com a afirmação de que é preciso “estar disposto a repensar os objetivos e os padrões de sucesso da conservação”. (Fonte: Reinaldo José Lopes/ Folha.com)