Índios sul-mato-grossenses exigem maior atenção do Estado brasileiro para o conflito entre eles e proprietários rurais, que se arrasta há décadas, sem solução. Líderes de várias comunidades reuniram-se nesta sexta-feira (2), em Dourados, com parlamentares que integram a Comissão de Direitos Humanos e Minorias e a Frente Parlamentar dos Povos Indígenas da Câmara dos Deputados. Segundo o Conselho Indigenista Missionário (Cimi), 61 índios foram mortos no estado desde janeiro do ano passado.
De acordo com o antropólogo Tonico Benites, índio Guarani Kaiowá e um dos representantes da comunidade de Jaguapiré, o processo de expulsão dos índios de suas antigas terras intensificou-se no fim da década de 1970, com a consolidação das atuais propriedades rurais.
“Até então, os índios estavam dispersos por todo o estado, alguns inclusive trabalhando nas fazendas. As poucas reservas indígenas [sete] então existentes estavam vazias”, disse Benites. Segundo ele, o processo de expulsão dos índios das áreas destinadas à produção agrícola tornou-se mais intenso no início da década de 1980, quando episódios de violência se tornaram cada vez mais frequentes. “O que algumas pessoas chamam de retomada [territorial] nós consideramos uma volta às nossas terras tradicionais”, ressaltou.
Inseguros, os índios dizem não confiar nas polícias Militar e Civil de Mato Grosso do Sul pedem maior presença da Polícia Federal, além da permanência da Força Nacional de Segurança no estado. Eles exigem ainda o esclarecimento dos casos de assassinato de índios e a punição dos culpados.
“Continuamos recebendo ameaças de fazendeiros, dizendo que não pensarão duas vezes antes de atirar de novo em nosso povo”, disse Rodolfo Vera, que teve um irmão e um primo, Genivaldo e Rolindo Vera, mortos em 2009 no Acampamento Ypoi, em Paranhos. De acordo com Benites, a distância entre as delegacias da PF em Mato Grosso do Sul pode chegar a 200 quilômetros.
Para o vereador Otoniel Ricardo (PT), representante da aldeia Te´yikue, de Carapu, é importante que a Força Nacional permaneça no estado para evitar novos atentados contra as comunidades indígenas, como o que ocorreu no último dia 18, quando pistoleiros invadiram um acampamento, mataram o cacique e levaram seu corpo. Além disso, Otoniel sugere que as ações de segurança pública levem em consideração as particularidades da região, como a proximidade com a fronteira.
Na opinião de Otoniel Ricardo, a política estadual é anti-indígena. “Por isso, não confiamos nas polícias estaduais e queremos maior presença da Polícia Federal e da Força Nacional”, disse Ricardo, lembrando que a maioria dos presentes à audiência são frequentemente ameaçados por causa de suas atividades.
Os participantes da audiência também defenderam o fortalecimento dos órgãos responsáveis pela saúde indígena. Segundo eles, muitas vezes, seguranças de algumas propriedades impedem funcionários do setor de prestar assistência às comunidades. Atualmente, o órgão responsável é a Secretaria Nacional de Saúde Indígena, do Ministério da Saúde. Anteriormente, a tarefa era da Fundação Nacional de Saúde (Funasa).
Além da demarcação de novas terras indígenas e de auxílio governamental, os índios esperam ser recebidos pela presidenta Dilma Rousseff, em Brasília, de quem cobram maior atenção à causa indígena. Eles a consideram “muito distante” de seus problemas.
“A presidenta Dilma está muito distante da questão indígena. Por ser mulher, eu imaginava que ela teria mais atenção. Alguém precisa amolecer o coração dela, pois não fomos nós que criamos toda essa situação. O Brasil está parado na questão indígena”, afirmou Anastácio Peralta, da aldeia Panambizinho, de 1,2 mil hectares, localizada a cerca de 17 quilômetros do centro de Dourados.
Representam a Comissão de Direitos Humanos e Minorias e a Frente Parlamentar os deputados Domingos Dutra (MA), Erika Kokay (DF) e Padre Ton (RO), todos do PT. O deputado estadual Laerte Tetila, também petista, acompanha o grupo, que inclui ainda representantes da PF e da Funai. (Fonte: Alex Rodrigues/ Agência Brasil)