Cinco anos depois de realizar o sonho de fazer parte de uma missão espacial, o primeiro astronauta brasileiro se diz pronto para voltar ao cosmos. Em entrevista exclusiva ao Terra, Marcos Pontes, 48 anos, diz que aguarda ansioso por uma nova oportunidade. “A idade vai aumentando e não posso ficar esperando por muito tempo. Já estou bem perto dos 50 anos. Como um dos meus sonhos é voltar ao espaço, pode ter certeza que estarei achando um caminho muito em breve”, afirma.
Em 2006, Pontes partiu em direção à Estação Espacial Internacional (ISS, na sigla em inglês) a bordo da nave russa Soyuz TMA-8 com oito experimentos científicos brasileiros para execução em ambiente de microgravidade. Agora, a ambição do ex-piloto militar aumentou. Ele almeja ficar bem mais do que os 10 dias que passou no espaço ou até mesmo participar de uma missão ainda mais grandiosa. “Gostaria de ficar mais tempo, talvez seis meses na ISS ou em uma missão para a Lua. Ou para Marte, bem mais tarde”, explica.
O caminho até uma nova experiência no espaço, porém, ainda é longo. Pelo menos em projetos nacionais. “Gostaria de realizar a segunda missão espacial brasileira AMANHÃ. Porém, até onde sei, não existe nenhum projeto do nosso governo para os próximos dois anos. Mas já tenho toda a preparação técnica e emocional necessária para ser escalado”.
Sem perspectiva no País, Pontes aposta em nova carona com estrangeiros. “Estou disposto a encarar missões de teste de espaçonaves ou estações privadas em desenvolvimento. E tenho recebido vários convites para contribuir como engenheiro e astronauta nos projetos de foguetes e espaçonaves que estão sendo criados nos EUA com a nova política espacial americana e em outros países que já trabalhei na Europa e Ásia. Estou estudando toda essa situação para decidir o que fazer”, diz o brasileiro, que faz parte das equipes de manutenção da ISS.
Condicionamento não preocupa – Ainda que um pouco fora de forma, o condicionamento físico não é preocupação para Pontes. Segundo ele, essa é a parte mais simples da preparação de um astronauta. “Usamos os treinos físicos basicamente como diversão, para relaxar a cabeça. Durante a fase de treinamento mais densa que ocorre no último ano antes da decolagem, temos geralmente três sessões de condicionamento por semana com uma hora de trabalho aeróbico e uma hora de musculação”. Para o brasileiro, o verdadeiro desafio é outro.
“É muito estudo. E a palavra treinamento geralmente é mal interpretada em países sem tradição em voos espaciais. Pessoas logo associam a condicionamento físico. Mas não existe nenhuma semelhança entre a atividade de atletas, que trabalham basicamente com os músculos, e a de astronautas, que trabalham essencialmente com competências técnicas sobre sistemas”, explica, ao relatar que o trabalho feito é, em média, 70% técnico, 15% emocional (com psicólogos e psiquiatras), 10% fisiológico (com médicos) e apenas 5% de físico.
“De forma geral, podemos dizer que, em seis meses e com boa saúde, qualquer pessoa pode se preparar fisicamente para um voo espacial. Porém, para se preparar tecnicamente, emocionalmente e fisiologicamente, poucas pessoas têm os requisitos”. Segundo Pontes, o treinamento de um astronauta hoje dura cerca de 8 anos.
À espera do próximo voo – Enquanto aguarda a convocação, Pontes, que até 1998 era piloto militar da Força Aérea Brasileira (FAB), atua em várias frentes. Trabalha no setor técnico aeroespacial no Brasil como pesquisador e consultor, é professor convidado do Departamento de Engenharia Aeronáutica da Universidade de São Paulo (USP), além de ser palestrante. Recentemente, tornou-se embaixador da ONU para o desenvolvimento industrial.
“E permaneço em Houston à disposição do governo brasileiro para outros voos espaciais. Eles podem me escalar a qualquer momento, quando acharem adequado. Minha vida sempre foi ligada ao sonho de voar. O importante é isso: abrir as asas e decolar”, finaliza. (Fonte: Angela Joenck Pinto/ Portal Terra)