Estudo avalia riscos ambientais para obras de dois museus paulistas

Um estudo feito em parceria entre o Instituto de Química (IQ) e a Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da Universidade de São Paulo (USP) avaliou a qualidade ambiental do Museu Paulista – mais conhecido como Museu do Ipiranga – e da Pinacoteca do Estado de São Paulo.

Durante dois meses, um sensor eletrônico com uma balança de quartzo e um filme fino de verniz por cima foi instalado nos dois locais para analisar fatores como temperatura, umidade, iluminação e poluentes. O aparelho produziu gráficos que mostram se o verniz sofreu ou não alterações nesse período.

Segundo o especialista em química ambiental e professor da EACH Andrea Cavicchioli, muitos trabalhos já foram feitos para verificar o estado de conservação de obras de arte, mas poucos se concentram na infra-estrutura das salas de exposição para abrigar as coleções.

“A parte externa da Pinacoteca, por exemplo, é extremamente contaminada pela fumaça dos carros e ônibus. Do ponto de vista de materiais particulados (partículas de poluentes suspensas no ar) e ozônio, não é o melhor lugar para se construir um museu, mas o nível de poeira dentro das galerias é baixo, pois há muita filtração e barreiras físicas”, explica Cavicchioli.

Já no Museu Paulista, ocorre o contrário: a área de fora não sofre tanto com a presença de monóxido e dióxido de carbono, mas as portas e janelas abertas fazem com que não haja tanta diferença entre a climatização e a luminosidade de dentro e as da rua. A longo prazo – pelo menos dez anos de exibição contínua –, essas condições poderiam prejudicar as cores das telas e causar desbotamentos, perda de elasticidade e quebras das tintas.

“É muito mais difícil adaptar e mudar o Museu do Ipiranga, pois é um prédio tombado. Podem ser feitas galerias no subsolo, anexos e novas salas, onde daria para mexer”, diz o professor. Ele pondera que o Museu Paulista tem mais caráter histórico, com muitos objetos, moedas, tecidos, canhões e carroças, enquanto na Pinacoteca há mais quadros e esculturas valiosos e vulneráveis. Por isso, a preocupação com a climatização no segundo acabam sendo maiores.

O estudo da USP também aponta, nos dois museus, uma grande diferença entre os locais de exposição e a reserva técnica, onde fica guardado o acervo. “A incidência de luz na reserva é bem menor, por isso essas obras estão mais bem preservadas”, destaca Cavicchioli. Lâmpadas incandescentes são melhores que as fluorescentes nesse caso, por terem menor intensidade.

“A diretoria e os funcionários dos museus são de alto nível profissional, e essas mudanças só não são feitas por restrições financeiras e uma série de outros motivos”, diz. Além disso, esses resultados, segundo o especialista, ainda são preliminares e precisam ser repetidos.

Financiamento – A diretora do Museu Paulista e historiadora Cecilia Helena Oliveira ressalta que o prédio de 120 anos, com 120 mil obras de arte – entre livros do século 15 e peças raríssimas – e 350 mil visitas por ano, foi erguido para ser um memorial nacional, não um museu com alta taxa de ocupação.

“O espaço tem conseguido conservar desde 1894 a tela ‘Independência ou Morte’, de Pedro Américo, que está chumbada na parede. No entanto, há, sim, uma busca por melhores condições climáticas, pois em dias de chuva a umidade interna chega a 70%”, aponta Cecilia.

No ano passado, a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) liberou R$ 1,6 milhão para o museu fazer compras e adaptações necessárias na reserva técnica, com o objetivo de melhor acomodar as obras.

“Vamos transferir o acervo das torres para o subsolo do prédio. Esse dinheiro tem sido destinado à compra de materiais, embalagens, prateleiras e armários”, enumera Cecilia. A expectativa é que a reforma fique pronta até o início de 2013.

A intervenção ainda não ocorrerá nas galerias principais, que, de acordo com a diretora do museu, passa por um trabalho rotineiro de manutenção e conservação.

“As telas, em geral, ficam expostas de cinco a dez anos seguidos, depois vão para a reserva. No caso dos tecidos de vestuário, exibimos por 15 dias a um mês, no máximo, sempre em vitrinas e com iluminação adequada, para não se deteriorarem”, explica.

Pinacoteca – Segundo a assessoria da Pinacoteca, o museu segue normas para manter o controle da umidade e a climatização necessários ao acondicionamento e à conservação das obras de arte.

Uma equipe de oito restauradores cuida das coleções, que não saem do prédio nem para os eventuais reparos.

Qualidade das igrejas – Os pesquisadores da USP também avaliaram a conservação de órgãos e obras de arte em duas igrejas barrocas mineiras: a Catedral da Sé de Mariana e a Igreja Matriz de Tiradentes, onde há dois dos órgãos de tubo mais importantes do Brasil.

Não foi verificado risco de corrosão nos instrumentos musicais, mas Cavicchioli diz que deveria haver um maior controle de temperatura e umidade nesses ambientes. “O ideal seria evitar o choque térmico constante causado pela abertura de portas e janelas em determinados horários”, ressalta.

As fugas de ar também podem prejudicar o som dos órgãos, segundo o professor. “A igreja é um lugar de culto, não tem consciência ambiental. As velas que queimam são péssimas para os quadros, por exemplo”, explica.

O objetivo, agora, é estender o projeto para igrejas da capital e do interior paulista, com mais ou menos a mesma idade e o mesmo tipo de construção. (Fonte: Luna D’Alama/ G1)