A Secretaria de Saúde de Santa Catarina registrou três mortes por infecção provocada pela bactéria Klebsiella pneumoniae cepa (KPC), em Florianópolis. Os pacientes morreram em janeiro e fevereiro deste ano e estavam entre os sete casos infecciosos confirmados pelo órgão estadual desde 15 de dezembro de 2011.
Um outro paciente, que estava com confirmação de colonização da também chamada “superbactéria”, morreu no mesmo período, de acordo com o Serviço de Controle de Infecção do Hospital Governador Celso Ramos, onde as vítimas estavam internadas. A data das mortes não foram divulgadas para manter a identidade dos pacientes em sigilo.
Segundo Ida Zoz, coordenadora do Serviço de Controle de Infecção do hospital, a presença da bactéria foi identificada pela primeira vez em um paciente que havia sido transferido de um outro hospital da região.
“Tivemos um primeiro surto no fim de 2010 e começo de 2011. Este é o segundo surto da bactéria no estado. Não temos comprovação científica para dizer que é mais comum ocorrer no verão, mas tomamos todas as precauções necessárias e não registramos mais nenhum caso desde 17 de fevereiro.”
De acordo com Ida, foram confirmados sete casos de infecção e 12 casos de colinização. “A diferença, em termos leigos, é que o paciente com infecção apresenta sintomas e o paciente com colonização da bactéria não apresenta sintomas.”
Cronologia – Depois da primeira confirmação de infecção, em 15 de dezembro, o Serviço de Controle de Infecção do Hospital Governador Celso Ramos registrou dois novos casos em 9 de janeiro deste ano. “A partir daí foram adotados os protocolos nacionais de acordo com a Anvisa [Agência Nacional de Vigilância Sanitária]”, disse Ida.
Entre as medidas adotadas, foi intensificada a comunicação entre os agentes de saúde que tiveram contato com pacientes infectados sobre a importância da higiene das mãos, separação de pacientes colonizados ou com infecção por KPC, além da disponibilização de funcionários exclusivos para estes pacientes.
Em 3 de fevereiro, os pacientes colonizados foram separados dos que tinham infecção pela bactéria. Todos passaram a ser analisados semanalmente por meio de coleta de culturas de vigilância.
Em 13 de fevereiro, com 11 casos de infecção e colonização, foram restritas a presença de acompanhantes e estagiários no hospital.
Em 15 de fevereiro, o centro cirúrgico do hospital, local por onde todos os pacientes infectados e colonizados tinham passado, passou por limpeza e desinfecção. O número de cirurgias no local foi reduzido por medidas de segurança sanitária.
Como surge uma superbactéria – “Superbactéria” é, na verdade, um termo que vale não só para um organismo, mas para todas as bactérias que desenvolvem resistência a grande parte dos antibióticos.
Por causa de mutações genéticas ao longo do tempo, as bactérias passam a produzir enzimas que tornam grupos de micro-organismos comuns, como a Klebsiella e a Escherichia, “blindadas” para muitos medicamentos.
Outro mecanismo para desenvolvimento de superbactérias é a transmissão por plasmídeos. Plasmídeos são fragmentos do DNA que podem ser passados de bactéria a bactéria, mesmo entre espécies diferentes. Uma Klebsiella pode passar a uma Pseudomonas, e esta pode passar a uma terceira. Se o gene estiver incorporado no plasmídeo, ele pode passar de uma bactéria a outra sem a necessidade de reprodução.
No Brasil circulam algumas bactérias multirresistentes, como a SPM-1 (São Paulo metalo-beta-lactamase), além da KPC.
Remédios – Entre os remédios que ficam ineficazes diante de uma superbactéria estão as carbapenemas, normalmente uma das principais opções de tratamento. Mas há remédios como as polimixinas e tigeciclinas que continuam funcionando. Só que é munição para usar em situações de emergência, como surtos de infecção hospitalar. O uso sem critério dessas substâncias acabaria tornando-as inócuas no futuro. (Fonte: Glauco Araújo/ G1)