As águas do Refugio Natural de Vida Silvestre Caño Negro, no norte da Costa Rica, são um santuário para aves, jacarés e peixes, e seu atrativo turístico transformou os habitantes da região em defensores da natureza local.
Caño Negro, uma área protegida de quase 10 mil hectares, reúne diversas atrações e belezas naturais como rios navegáveis, manguezais, florestas e sua rica biodiversidade, o que atrai milhares de turistas locais e estrangeiros a cada ano, assim como cientistas e pesquisadores.
O principal afluente da região é o Rio Frio, mas também existem várias lagoas e mangues onde vivem 350 espécies de aves, 78 de mamíferos e mais de 300 peixes, entre eles o pré-histórico gaspar (Atractosteus tropicus), o “xodó” dos habitantes e grande atração turística.
O peixe gaspar é considerado um fóssil que tem vida: sua fisionomia praticamente não mudou em 150 milhões de anos e apresenta qualidades únicas, como uma bexiga natatória que também funciona como uma espécie de pulmão, uma mandíbula prolongada com várias fileiras de dentes afiados e escamas brilhantes em forma de losango.
A pesca tradicional é a principal ameaça para esta espécie, já que é um dos peixes mais consumidos na região norte da Costa Rica, o que fez com que as autoridades estabelecessem uma proibição à pesca de peixe gaspar entre os meses de março e agosto. Nos últimos anos os habitantes de Caño Negro aproveitaram a presença da espécie para atrair turistas com a pesca esportiva, na qual o peixe é devolvido à água, explicou Sara Díaz, presidente da Associação de Desenvolvimento da comunidade.
Os ossos e as escamas do peixe também se transformaram em uma engenhosa forma de subsistência para os habitantes de Caño Negro, já que muitos deles os utilizam na confecção de artesanatos para vender aos turistas. Em honra a este peixe, a comunidade realiza, sempre na última semana de outubro, o Festival do Gaspar, que promove atividades culturais, o uso sustentável dos recursos naturais do local e comercializa produtos derivados do peixe.
O pântano de Caño Negro, declarado lugar de importância internacional em 1991 pela Convenção de Ramsar, abriga diversas aves migratórias e aquáticas, entre elas garças, o martim-pescador, o jabiru, cegonhas e patos. Pelos rios é fácil observar a grande quantidade de jacarés que saem para tomar sol e que nadam sorrateiramente com seus olhos e parte da cabeça fora de água, embora os habitantes da região afirmem que são animais “pacíficos”. Prova disso é que as crianças costumam tomar banho nos rios sem medo.
Sara Díaz comentou que a pesca e a caça ilegal, embora em menor intensidade que em anos anteriores, seguem sendo um problema para o peixe gaspar e para os jacarés, cujo couro é muito utilizado para confeccionar artigos. Outra das ameaças para este lugar rico em biodiversidade é a expansão agrícola nos arredores da área protegida que se desenvolveu nos últimos anos, principalmente o cultivo de abacaxi.
Segundo Sara, a população de Caño Negro rejeita essa atividade, pois são plantações que utilizam produtos químicos que poderiam contaminar as fontes de água e, além disso, erodir o solo, o que geraria um forte impacto à biodiversidade da área.
Até o momento, esclareceu a ativista, não foram detectados indícios de que as plantações de abacaxi tenham causado danos em Caño Negro, mas a comunidade se mantém em alerta para proteger seu tesouro natural. (Fonte: Portal Terra)