O governo Dilma Rousseff prepara um decreto criando regras e instituindo um percentual obrigatório mínimo de compra de “produtos verdes” nas licitações públicas.
Será valorizada nas licitações a contratação de produtos e serviços que gerem menos resíduos e que tenham menor consumo de água, matérias-primas e energia em sua fabricação.
A iniciativa faz parte de uma agenda de propostas que o governo quer levar para discussão na Rio+20, a conferência de desenvolvimento sustentável da ONU que ocorre em junho no Rio de Janeiro.
Na conferência, o governo quer “dar o exemplo” e obter o compromisso público de alguns dos maiores consumidores do planeta -empresas, escolas, hotéis, hospitais, shoppings, setor público e outros- de adotarem cotas mínimas de compra de “produtos verdes” que agridam menos o ambiente.
O objetivo é criar escala de produção para esses produtos, que hoje custam mais caro por conta da demanda ainda muito restrita.
“Como o ente público é um grande comprador, ele induz todo o mercado. Nossa ideia é incentivar o setor privado a fazer o mesmo dentro de seus programas”, afirma Samyra Crespo, secretária de Articulação Institucional do Ministério do Meio Ambiente.
Indústria nacional – Além de colocar o Brasil como protagonista do “consumo verde” global, a avaliação do governo é que a proposta beneficia o agronegócio e a indústria nacional que, entre outras vantagens, utiliza energia limpa das hidrelétricas e saiu na frente em tecnologias renováveis como álcool e biodiesel.
No ano passado, só 0,07% das compras governamentais foram de produtos considerados sustentáveis. Segundo o Ministério do Planejamento, o governo já fez R$ 22,2 milhões em compras de produtos sustentáveis em 1.546 processos licitatórios desde 2010.
O Programa de Contratações Públicas Sustentáveis tem 548 produtos considerados “verdes” no catálogo de materiais do Comprasnet.
Os ministérios do Planejamento e do Meio Ambiente ainda discutem qual percentual de “compras verdes” deve ser adotado, sem tornar os gastos do governo significativamente maiores.
A primeira fase de implementação focará os produtos de almoxarifado, como itens de papelaria, embalagens e insumos do dia a dia das repartições públicas.
Em seguida, deve se estender para a compra de eletroeletrônicos, como ar-condicionado e computadores que gastem menos energia e não tenham materiais tóxicos.
Desafios – A terceira etapa envolverá produtos de limpeza, instituindo a compra de detergentes e produtos biodegradáveis, um dos itens que mais poluem esgoto e mananciais.
“É uma visão alinhada com o que a indústria quer e com iniciativas já em desenvolvimento”, diz Maria Eugenia Proença Saldanha, presidente-executiva da Abipla, associação que reúne as indústrias de produtos de limpeza.
Um dos maiores desafios do setor de produtos de limpeza, formado 95% por empresas de pequeno e micro portes, é desenvolver o consumo consciente.
“Como há muita informalidade, nossa meta é a regularização das empresas para evitar despejo irregular e o desenvolvimento de produtos adequados”, disse.
Estima-se que 55% da água sanitária usada do país seja de fábricas informais. (Fonte: Folha.com)