Nove meses atrás, a bióloga Ana Carla Aquino, de 37 anos, se deparou com uma cena que ficou marcada na memória. “Vi um casal de nhambus morrer ao proteger o ninho com filhotes das chamas”, lembra sobre o incêndio que destruiu 83 hectares de mata preservada e afugentou 130 espécies de aves da floresta da USP de Ribeirão Preto (SP) em agosto de 2011.
O episódio – que posteriormente foi apontado como criminoso pelo Ibama – motivou a técnica do laboratório de Zoologia e Vertebrados da universidade a colocar em prática a ideia de construir ninhos artificiais, como forma de atrair pássaros ao espaço degradado. Ao todo, já foram instaladas 25 caixas de madeira e bambu, produzidas em diferentes tamanhos, com tampa articulável. Até julho, o número deve dobrar.
Além de ganhar a confiança das aves expulsas de seu habitat e aumentar a biodiversidade da área, o projeto desenvolvido voluntariamente visa obter novas informações para um estudo sobre reprodução animal. “A gente tinha essa ideia antes do incêndio, como uma forma de estudar os aspectos reprodutivos. Com o incêndio, resolvemos adiantar isso”, afirma a pesquisadora ao G1.
Embora não haja um levantamento sobre o número de espécies que voltaram a ocupar o banco genético, exemplares de maritacas, pica-paus, papagaios, periquitos, corujas-do-mato, entre outros, voltaram a sobrevoar o campus.
Mas os resultados mais expressivos da ideia devem ser percebidos a partir do segundo ano do projeto, de acordo com a bióloga, através de um processo natural de reconhecimento e adaptação dos pássaros.
“A gente espera que as aves comecem a ficar mais à vontade com a mudança no ambiente”, diz. De acordo com Ana Carla, os ninhos artificiais também contribuem, de certa forma, para a recuperação da mata no local. “Ao voltarem para cá, as aves trazem sementes”, explica. (Fonte: Rodolfo Tiengo/ G1)