O ambientalista Mário Mantovani, diretor de políticas públicas da ONG S.O.S Mata Atlântica, afirmou em entrevista ao Terra TV que o Brasil entrará pela porta dos fundos na Conferência das Nações Unidas Sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20. Segundo ele, o Código Ambiental significa que governo brasileiro não dá valor para questões ambientais e o País apresentará um pacote “pífio” na conferência.
Para Mantovani, as cidades brasileiras não são planejadas de acordo com o meio ambiente. Em São Paulo, por exemplo, existe uma diferença de 8°C de uma região para outra, e isso pode ser extremamente prejudicial para quem tem problemas respiratórios, conta o ambientalista. O maior problema ambiental brasileiro atualmente é a questão fundiária. “Nós voltamos às capitanias hereditárias e é esse grupo que faz chantagem contra nós. A luta hoje em Brasília é para continuar rolando dívida do crédito agrícola (…) e hoje vemos muito pouco sendo desenvolvido para a sociedade”, afirma.
Segundo ele, mais de 60% das terras da Mata Atlântica estão abandonadas, sem produção agrícola. “Isso é insustentável em qualquer lugar do mundo. Não tem sentido querer fazer uma economia com pouca biodiversidade”, contesta Mantovani. “A economia verde é uma realidade, ela vai acontecer. Ela vai vir da produção mais limpa, da agricultura e economia de baixo carbono, (das pessoas) tratando lixo, cuidando das nossas águas, dando qualidade de vida a todos”.
De acordo com Mantovani, o governo Dilma é o pior para o meio ambiente. “Se for pelo pacote ambiental apresentado atualmente, o governo está abaixo da crítica, não dá nem para dar nota no momento”, diz.
Segundo ele, o Brasil teve grandes avanços desde a Eco92, mas ainda tem muito a melhorar.
Apesar das críticas, o ambientalista acredita que é um bom momento para a sociedade agir e fazer a diferença. Com participação online durante a Rio+20, as pessoas poderão interagir com as novas tecnologias e trazer informação a todos em tempo real direto da conferência. “Será uma conferência onde a sociedade vai construir. Se cada um de nós tirar um momento nestas duas semanas para pedir um pouco pela qualidade de vida, coisas que não se dão valor e que a economia verde vai precisar alcançar, vamos realmente fazer a diferença. É o que eu chamo de economia planetária”, afirma Mantovani. “Agora está nas nossas mãos”, conclui.
Rio+20 – A Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, que será realizada na cidade do Rio de Janeiro entre os dias 13 a 22 de junho de 2012, deverá contribuir para a definição da agenda de discussões e ações sobre o meio ambiente nas próximas décadas.
Com o objetivo de renovar o compromisso político com o desenvolvimento sustentável por meio da avaliação do progresso e das lacunas na implementação das decisões adotadas pelas principais cúpulas sobre o assunto e do tratamento de temas novos e emergentes, a Rio+20 terá como foco principal a economia verde e a erradicação da pobreza.
A Rio+20, que assim é chamada por marcar os 20 anos da realização da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (Rio92), será composta por três momentos. Nos primeiros dias, de 13 a 15 de junho, está prevista a 3ª Reunião do Comitê Preparatório, em que representantes governamentais discutirão os documentos que posteriormente serão convencionados na Conferência. Entre os dias 16 e 19 serão programados eventos com a sociedade civil. E de 20 a 22 ocorrerá o Segmento de Alto Nível da Conferência, para o qual é esperada a presença de diversos chefes de Estado e de governo dos países-membros das Nações Unidas.
No entanto, mesmo com toda a expectativa para acordos que possam mudar o futuro do planeta, a conferência é alvo de críticas e alguns chefes de Estados apontam, inclusive, para o “risco de fracasso” da Rio+20. O presidente francês, François Hollande, que deve estar presente no evento, alertou para as dificuldades e riscos de que se pronunciem palavras que não serão cumpridas com atos.
A ex-ministra do Meio Ambiente do Brasil, Marina Silva, também criticou a Rio+20. Para ela, os líderes políticos “conseguiram excluir a ciência do debate” e o documento que prepara para a Rio+20 “manteve o problema de separar ecologia e economia, quando é preciso integrá-las”.
Além disso, apesar dos esforços do secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, vários líderes mundiais estarão ausentes, incluindo o presidente americano Barack Obama. Do lado europeu, o presidente russo Vladimir Putin, o presidente da Comissão Europeia José Manuel Barroso e o primeiro-ministro espanhol Mariano Rajoy confirmaram presença. No entanto, nem a chanceler alemã Angela Merkel nem o primeiro ministro britânico David Cameron deverão participar. Para garantir a presença de países africanos e caribenhos, o Itamaraty, o Ministério da Defesa e a Embraer trarão as delegações de 10 deles. (Fonte: Portal Terra)