Depois de fazer o doutorado na Universidade de Leeds, Inglaterra, e o pós-doutorado no Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos (NIH), o farmacêutico Luis Lamberti da Silva conseguiu, como sempre desejou, voltar para o Brasil para seguir os seus estudos de biologia celular. Ele acabou retornando para a mesma instituição na qual fez a graduação e o mestrado: a USP de Ribeirão Preto, que considera uma instituição de referência na sua área. Lá fora, Lamberti trabalhou em um grupo com vários pesquisadores de outros países latino-americanos, mas era o único que tinha interesse de voltar para o seu País de origem.
Segundo um levantamento realizado com mais de 17 mil cientistas de 16 países pelo Bureau Nacional de Pesquisa Econômica dos Estados Unidos em áreas como biologia e ciências da terra, o número de pesquisadores brasileiros que deixam o País definitivamente é de cerca de 5%. Apesar de não haver dados concretos sobre a “fuga de cérebros” em diferentes áreas, o CNPq confirma a tendência: muitos brasileiros estão voltando para o País depois de passarem alguns anos em instituições de ponta no exterior.
Situação similar foi vivida pelo médico André Luiz Báfica, que retornou após uma temporada de seis anos também no NIH, como pós-doutorando e pesquisador assistente. “Sempre quis voltar para fazer ciência aqui, mas são dois mundos: o meu departamento lá tinha muita verba, eu tinha muita autonomia também. Mas além do dinheiro, outro fator importante é a infraestrutura, que aqui ainda falta”, compara o professor de imunologia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
Lamberti concorda e aponta mais uma dificuldade: a pouca visibilidade internacional enfrentada pelos pesquisadores brasileiros. “Nós ainda temos que melhorar em relação à qualidade dos artigos. A nossa produção tem que ser citada por outros pesquisadores de outras partes do mundo”, destaca o professor da USP de Ribeirão Preto.
Investimento em pesquisa aumentou nos últimos anos – Em 10 anos, o investimento federal em pesquisa e desenvolvimento mais do que triplicou: em 2000, o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) investiu R$12,01 bilhões; em 2010, foram R$ 43,7 bilhões. Apesar do aumento, Báfica ressalta que os cientistas brasileiros ainda sofrem com a falta de verbas – à exceção dos pesquisadores paulistas, que contam com uma agência própria de fomento, a Fapesp. “Enquanto colegas meus que foram para instituições paulistas ganharam um financiamento de R$ 900 mil, eu ganhei R$ 50 mil da Fapesc (Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Estado de Santa Catarina) e R$ 4 mil da universidade”, cita.
Vivendo nos Estados Unidos há 10 anos, Ana Cotrim foi fazer o doutorado no NIH e, diferentemente de Báfica, decidiu não voltar para o Brasil. Atualmente professora da Faculdade de Odontologia da Universidade de Maryland, Ana destaca que principalmente para os pesquisadores mais jovens, conseguir verba para pesquisa é mais fácil no Brasil hoje.
“A porcentagem de projetos que recebem verbas do Estado, principalmente em São Paulo, é muito maior do que a fornecida pelo NIH, que também é responsável por repassar para as universidades as verbas fornecidas pelo governo. No Brasil, eu vejo que as coisas são mais fáceis do que há 10 anos, enquanto o volume de verba distribuída pelo NIH diminuiu”, compara. Atualmente, enquanto a Fapesp aprova 65% dos projetos que pedem verbas, totalizando um número de 18.278, o NIH destina 10% de seu orçamento para projetos do próprio instituto, que abriga 6 mil pesquisadores.
Segundo o biólogo Luís Batista, pesquisador da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos desde 2008, apesar da maior infraestrutura dos centros de pesquisa americanos, além da facilidade para conseguir produtos para pesquisa – que no Brasil podem demorar meses para chegar -, os pesquisadores brasileiros se beneficiam de um melhor momento econômico, que se reflete em um maior investimento em ciência. “Sem dúvida, se você comparar a taxa de aprovação de bolsas da Fapesp e do NIH, vai ver que a crise se reflete também na pesquisa, e para conseguir verba, o jovem pesquisador brasileiro terá mais facilidade do que o americano”, destaca.
O mesmo levantamento do Bureau Nacional de Pesquisa Econômica dos Estados Unidos revelou que cerca de 5% dos pesquisadores atuando hoje no Brasil são estrangeiros. Para a pesquisadora Katlin Massirer, do centro de Centro de Biologia Molecular e Engenharia Genética (CBMEG), da Unicamp, não há investimento para atrair pesquisadores estrangeiros.
“O processo de concurso para professor no Brasil é muito complicado para quem vem de fora, especialmente pela prova escrita e pelos concursos serem em diferentes períodos do ano nas instituições. Isso inibe muito a vinda de pesquisadores estrangeiros para cá: nós nunca vamos atrair estrangeiros se tivermos apenas uma prova em português; ela deveria ser baseada na análise de produção científica e qualidade do projeto apresentado”, defende. (Fonte: Portal Terra)