Estudo mostra que mercúrio tem afetado as tartarugas da Amazônia

Uma pesquisa apresentada pela Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa), em Santarém, mostra como a contaminação pelo mercúrio no Rio Tapajós está influenciando as tartarugas da Amazônia que nascem no tabuleiro de Monte Cristo, um dos mais importantes para a reprodução da espécie em solo paraense.

Os dados revelam que a presença de taxas de mercúrio nos ovos da tartaruga marinha tem contribuído para a produção de ovos menores e mais leves, o que pode prejudicar a espécie. Outra conclusão do estudo é de que o mercúrio também está relacionado a desovas em áreas mais rasas da praia, o que também diminuiria a taxa de sucesso reprodutiva da tartaruga.

“Estima-se que são necessários cerca de mil ovos para que um deles supere todas as ameaças e alcance a maturidade sexual para que chegue a reprodução. Esta situação é mais dramática, pois além das pressões antrópicas, as ninhadas em seu desenvolvimento devem ainda suportar as limitações que são impostas pela natureza tais como as inundações naturais das praias”, diz José Carvalho, mestre em recursos naturais da Amazônia.

A tartaruga da Amazônia é uma das 15 espécies que vivem nas águas doces da região. Ela é o maior quelônio que vive em áreas fluviais na América do Sul e atinge até um metro de comprimento e cerca de 90 quilos. A Bacia do Rio Tapajós abriga a maior aglomeração da espécie no Pará. Porém, na região, além da presença de um reservatório natural de mercúrio, o uso desta substância foi intenso nas décadas de 70 e 80 para ajudar na extração de ouro.

“Devido ao uso indiscriminado de mercúrio durante a corrida do ouro, a maioria dos pesquisadores atribuiu os elevados níveis de mercúrio encontrados à atividade garimpeira. Porém no vale do Rio Tapajós, existe um grande reservatório de mercúrio natural, o que corrobora a ideia de que a garimpagem por si só não explica os estoques de mercúrio encontrados nos solos”, diz Josué Carvalho.

O tabuleiro de tartarugas estudado está localizado no município de Aveiro, há 209 km da foz do Rio Tapajós. Em 2010, mais de um milhão de filhotes de tartaruga da Amazônia nasceram na praia que possui 183 metros de comprimento e 72 de largura.

Para o pesquisador a análise do impacto para a bacia é fundamental para e ecologia da região e também para a saúde dos moradores da área que, apesar de proibidos por lei, ainda consomem a carne de tartaruga. De acordo com ele, foram analisadas concentrações de mercúrio em 40 fêmeas, 66 filhotes e 99 ovos, mas o método usado não requer o sacrifício dos animais.

Josué Carvalho afirma que quanto maiores as fêmeas mais mercúrio foi encontrado em seus ovos e quanto mais fundo elas enterravam seus ovos maior era a contaminação por esta substância detectada neles. “O aumento de mercúrio nos ovos contribui para a produção de ovos mais leves e menores “, revela o pesquisador.

Os níveis encontrados em carapaças, unhas, gemas e músculos analisados apontam que a contaminação das fêmeas é o principal fator de risco para os filhotes que nascem no local. “A gema dos ovos pode ser a principal fonte de mercúrio devido a transferência materna de oxidantes”, aponta.

Outro resultado indica que o mercúrio perturba o comportamento dos animais fazendo-os se distanciar menos da margem do rio, o que contribui para perda de ninhadas por inundação e compromete o sucesso de eclosão com redução no número de animais a cada temporada reprodutiva quando ocorrem elevações imprevisíveis das águas do rio.

“Essa é uma conclusão inédita e extremamente relevante porque remete aos efeitos silenciosos da contaminação por mercúrio na biologia e ecologia dos organismos aquáticos contaminados por este elemento na Amazônia”, conclui o biólogo. (Fonte: G1)