O desmatamento em grande escala da Amazônia pode provocar até 2050 uma diminuição das chuvas de até 21% durante a estação seca e de 12% durante a estação úmida, segundo estudo britânico publicado nesta quirta-feira (6) na edição impressa da revista “Nature”.
De acordo com Dominick Spracklen, químico e autor do artigo principal da publicação, as florestas aumentam a quantidade de chuva. Mas a redução na cobertura vegetal da Amazônia pode causar uma grande redução do volume de precipitação no Brasil.
Spracklen e sua equipe de cientistas da Universidade de Leeds, da Inglaterra, estudaram como a densidade das florestas afeta o volume de chuvas entre os trópicos, a partir de dados obtidos por satélite. A vegetação leva a umidade da terra em direção à atmosfera, no processo conhecido como evapotranspiração, influenciando na quantidade de chuva.
O grupo de Spracklen descobriu que o vento que atravessa áreas densas da floresta produz, dias depois, o dobro de chuvas que o ar que circula entre uma vegetação menos espessa. A floresta amazônica e as florestas tropicais do Congo são os lugares onde a vegetação tem maior efeito sobre o regime de chuvas, detalhou Spracklen.
Mudança no uso do solo – Quando as florestas são substituídas por gramados ou plantações, a umidade do solo diminui, reduzindo a quantidade de chuvas. Ao combinar os dados do estudo com o ritmo de desmatamento atual da Amazônia, Spracklen disse que as chuvas devem ser reduzidas em até 12% na bacia amazônica durante a estação úmida e até 21% durante a estação seca no ano de 2050.
O desmatamento de algumas partes do bioma reduzirá as chuvas tanto ali como em outras regiões, como a bacia do rio da Prata, onde segundo o especialista, as chuvas diminuirão 4%.
Os especialistas temem que essas mudanças prejudiquem o setor agrícola, que gera US$ 15 bilhões por ano na Amazônia, assim como à indústria hidrelétrica, que produz na região 65% da eletricidade do Brasil. Estima-se que a cada ano sejam desmatados 50 mil km² de mata entre os trópicos.
Desmatamento em 2012 – De acordo com dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), divulgados no mês passado, o desmatamento registrado na Amazônia Legal caiu 17% entre 1º de janeiro e 15 de agosto de 2012, na comparação com o mesmo período de 2011.
As informações foram obtidas pelo sistema de detecção do desmatamento em tempo real, o Deter, que usa imagens de satélite para visualizar a perda de vegetação na região. Comparando os dados no intervalo de tempo avaliado, a devastação passou de 1.485,66 km² de floresta no ano passado para 1.232,75 km² neste ano, recuo de 252,91 km².
Em junho, a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, anunciou que a Amazônia Legal teve o menor índice de desmatamento dos últimos 23 anos. Segundo Inpe, a região teve 6.418 km² de floresta desmatada entre agosto de 2010 e julho de 2011 – o equivalente a quatro vezes o tamanho da cidade de São Paulo.
Foi a menor taxa desde que o instituto começou a fazer a medição, em 1988, e houve uma redução de 8% em relação ao mesmo período em 2009 e 2010. No entanto, em dezembro do ano passado, o Inpe havia divulgado uma expectativa de desmate de 6.238 km² – alta de 3%. O número foi obtido a partir dos dados consolidados do sistema Prodes. (Fonte: Globo Natureza)