Minerais-base do Pacífico reforçam teoria de que Marte tinha menos água

Um estudo de rochas provenientes do atol de Mururoa, na Polinésia Francesa, usado como local de testes atômicos, indica que os primórdios de Marte não eram tão quentes e úmidos como alguns argumentam.

De acordo com a análise recente, os minerais-base que compõem o Atol no Pacífico se parecem muito com aqueles encontrados no solo do Planeta Vermelho.

Mas enquanto acredita-se que os minerais-base encontrados em Marte sejam o produto da decomposição de rochas com água líquida, os sedimentos de Mururoa teriam uma origem diferente. Eles teriam surgido diretamente a partir do esfriamento de rochas ricas em água derretidas.

A pesquisa foi publicada na revista especializada “Nature Geoscience” por Alain Meunier e um grupo de outros cientistas da Universidade de Poitiers, na França.

As considerações do grupo são interessantes porque dizem respeito à noção de que o Planeta Vermelho tinha água abundante, talvez na sua superfície, há mais de 3,75 bilhões de anos – uma ideia que ganhou força após imagens de satélite terem mostrado depósitos de sedimentos.

Entretanto, o processo de produção de sedimentos em Mururoa, se amplamente replicado em Marte, removeria a necessidade de tais grandes volumes de água, e com isso possivelmente eliminaria também o ambiente propício para que a vida se estabelecesse no planeta.

“Marte não era tão quente e úmido nos seus primórdios quanto alguns têm sugerido. Eu não acredito em um oceano nos primórdios do planeta”, disse Meunier à BBC.

“Mesmo assim, o processo de Mururoa explica somente a mais antiga geração de minerais-base em Marte, no início do período Noachiano. Nas fases posteriores a água líquida existiu na superfície de Marte, não há dúvidas”.

Espaço livre – O atol de Mururoa foi o local dos testes nucleares franceses entre os anos 1960 e 1990. Um grande número de rochas foi extraído da ilha como parte deste programa, e agora está sob análise.

O trabalho da equipe de Meunier mostra que os minerais-base destas amostras vulcânicas se formaram diretamente no local, nos espaços que geralmente surgem entre os cristais de rocha em processo de esfriamento.

Eles não se formaram por meio do contato a longo prazo entre a rocha e a água, o caminho mais comum para a criação desses minerais.

“Dentro da rocha basáltica, enquanto a lava está esfriando, os cristais são às vezes separados por espaços livres no qual os fluidos residuais são concentrados”, explica o cientista.

“Estes fluídos contêm todos os componentes que não foram consumidos nas altas temperaturas dos cristais, tais como piroxênio, olivina e plagioclase; e entre esses componentes, é claro, há água”, acrescenta.

“Conforme a temperatura diminui, estes fluídos ficam supersaturados após muitas fases que consomem água e todos os elementos remanescentes. E isto favorece a formação de minerais-base”.

Além disso, quando os cientistas examinaram o reflexo infravermelho das lavas de Mururoa, encontraram um sinal muito parecido com os dados observados pelos satélites que, a partir da órbita de Marte, mapeiam os depósitos de minerais-base do Planeta Vermelho.

Ceticismo – John Mustard, da Universidade Brown, nos Estados Unidos, vem estudando as imagens de satélite dos depósitos de minerais-base de Marte desde 2005.

Ele disse que a nova pesquisa é uma adição bem-vinda ao debate sobre as condições ambientais nos primórdios do Planeta Vermelho, mas deixou claro que não está convencido de que as lavas de Mururoa possam explicar a grande abundância de minerais-base vista em algumas regiões do planeta.

O cientista argumenta que grande parte desse volume de água era subterrâneo. O debate em torno dos primórdios de Marte deve ganhar mais fôlego com as imagens que o robô Curiosity, da Nasa (agência espacial americana), deve enviar após analisar dados sobre os depósitos destes minerais-base. (Fonte: G1)