Um grupo internacional de pesquisadores, com ajuda brasileira, desenvolveu a câmera digital mais potente do mundo, e o objetivo não é nada mundano: decifrar o mistério da energia escura.
Instalada no telescópio Blanco, em Cerro Tololo (Chile), a Dark Energy Camera tem uma resolução de 570 megapixels. Com ela, astrônomos e astrofísicos pretendem produzir o maior mapeamento do céu já feito. E a chamada “primeira luz” já foi captada, no último dia 12.
O projeto faz parte da colaboração Dark Energy Survey (Pesquisa da Energia Escura, em português), liderada por pesquisadores do Fermilab, nos Estados Unidos, e financiada também por Reino Unido, Espanha, Alemanha, Suíça e Brasil. Ao todo, o custo é de US$ 40 milhões. O Brasil entrou com US$ 300 mil em dinheiro, mais o desenvolvimento em solo nacional de infraestrutura computacional, que equivaleria a outros US$ 600 mil.
Mistério gigante – A energia escura é, possivelmente, o maior mistério com que se depara a física moderna. Se não em termos do desafio intelectual, certamente no que diz respeito à importância dela para o funcionamento do Universo. Estima-se que ela represente mais de 70% de todo o conteúdo do Cosmos.
E o pior: ninguém sabe do que se trata. Há hipóteses, mas tudo que foi possível determinar com certeza é que ela age como se fosse uma espécie de antigravidade, distanciando as galáxias umas das outras. Resultado: graças à energia escura, a expansão do Universo está se acelerando.
A descoberta do fenômeno foi confirmada em 1998, quando o estudo da luz vinda de supernovas distantes – no caso, estrelas que atingem massa crítica e explodem violentamente – sugeriu que elas eram mais fracas que o esperado. A única explicação possível era que o Universo estava se expandindo mais lentamente no passado remoto, bilhões de anos atrás, do que no presente.
Atirando para todo lado – Além de estudar supernovas, a Dark Energy Survey também fará monitoramentos dos aglomerados de galáxias, dos efeitos de lentes gravitacionais (quando a luz de objetos distantes é curvada ao passar perto de outros astros com muita massa) e a estrutura em grande escala do Universo.
A ideia é juntar todos esses elementos de forma que eles se ajudem uns aos outros a tornar cada vez mais precisos os cálculos dos efeitos da energia escura sobre os padrões vistos no Cosmos. E é a primeira vez que um único instrumento permitirá a avaliação conjunta desses quatro fatores
“A combinação permite mais precisão na medida”, diz Martín Makler, físico do CBPF que teve a ideia de inserir o Brasil no projeto, que hoje tem como coordenador nacional Luiz Alberto Nicolaci da Costa, astrônomo do Observatório Nacional. “Ou seja, dá maior poder de distinção entre diferentes explicações para a expansão acelerada.” (Fonte: Salvador Nogueira/ Folha.com)