Pesquisadores do Instituto Mamirauá e da Universidade Federal do Pará (UFPA) capturaram neste mês 20 exemplares de primatas do gênero Saimiri, popularmente conhecido como macaco-de-cheiro, e coletaram amostras genéticas que vão contribuir com estudos sobre como evitar o desaparecimento de subespécies vulneráveis na natureza.
Entre 19 e 26 de novembro, cientistas recolheram indivíduos na vida selvagem com a ajuda de armadilhas e, no meio da floresta, realizaram procedimentos clínicos para coletar amostras de sêmen, que ficarão armazenadas em um laboratório instalado na UFPA.
O foco do grupo de estudiosos é preservar o genoma do macaco-de-cheiro-de-cabeça-preta (Saimiri vanzolinii), primata das Américas que possui menor distribuição geográfica, e encontrar maneiras de evitar a redução da população desta subespécie de macaco-de-cheiro.
Endêmico do Brasil, estimativas apontam que existam cerca de 45 mil exemplares de macaco-de-cheiro-de-cabeça-preta distribuídos em uma área de 870 km² cravada na região central do Amazonas, protegida pelo Instituto Mamirauá. De acordo com a lista vermelha da União Internacional para Conservação da Natureza (IUCN, na sigla em inglês), o primata já é considerado vulnerável na vida selvagem.
Segundo a bióloga Fernanda Pozzan Paim, coordenadora da pesquisa, a mudança climática que pode ocorrer na Amazônia é a principal “vilã” desta espécie, que vive em regiões de várzea, próximas a rios que cortam a floresta. “Há o risco de elevação do nível desses cursos d’água, ameaçando esta população já considerada reduzida. Por conta disto, estamos estudando estratégias de conservação. Por isso será necessário analisar dados reprodutivos do macaco-de-cheiro para uma possível fertilização in vitro no futuro”, explica a pesquisadora.
Ela afirma que os dados genéticos armazenados agora poderão auxiliar em projetos de reprodução e reintrodução do animal na natureza. “Pensamos no futuro em utilizar ‘mães de aluguel’ para inserir embriões que serão desenvolvidos em laboratório. Essas mães de aluguel teriam que ser fêmeas do mesmo gênero”, disse.
Outro ponto importante do estudo quer saber detalhes sobre o convívio entre as espécies Saimiri vanzolinii e Saimiri cassiquiarensis, esta última popularmente conhecida como macaco-de-cheiro-comum.
De acordo com Fernanda, a análise poderá confirmar a existência de animais híbridos (resultante do cruzamento de diferentes espécies) em vida livre. “É um risco este tipo de cruzamento. São animais que nascem inférteis, ou seja, não conseguem se reproduzir, o que ameaçaria a população de primatas”, disse. (Fonte: Eduardo Carvalho/ Globo Natureza)