O Brasil registrou cerca de 90% de todos os focos de incêndio ocorridos na Amazônia em uma década, liderando entre os países que detêm partes do bioma, aponta um relatório divulgado na última semana por 11 organizações não governamentais.
O número, que consta no atlas “Amazônia sob Pressão”, indica que entre 2000 e 2010 o Brasil teve 1,19 milhão de um total de 1,32 milhão de pontos de incêndio registrados nos nove países que compõem a região amazônica. Vale lembrar que 64,3% do território amazônico é brasileiro.
O segundo país com maior número de indícios de fogo, atrás do Brasil, foi a Bolívia, com 97,03 mil focos. O número equivale a 7% do total.
Os focos de calor são pontos captados por satélites, com altas temperaturas (acima de 47º C) e área mínima de 900 m². O relatório informa que foram utilizados dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) para mapear os pontos de incêndio, com dados obtidos por dois satélites – o NOAA-12 e o NOAA-15.
Vegetação diferente – É importante ressaltar que dentro do território amazônico há áreas que possuem vegetação diferente da floresta tropical, como pastos, cerrado e bosques de transição, onde ocorreram 25,7% dos focos de calor registrados no período, afirma o atlas.
O maior número de pontos de fogo na Amazônia coincide com o “arco de desmatamento”, área que se distingue por um avanço crescente da fronteira agrícola e que está em grande parte no Brasil, em estados como Mato Grosso.
Proteção ambiental – Em termos de indícios de incêndios nas unidades de conservação amazônicas, o Brasil também lidera. Sete das dez áreas de proteção ambiental mais atingidas são brasileiras.
A “campeã” em focos de incêndio é a Área de Proteção Ambiental (Apa) Triunfo do Xingu, no Pará, com 10,8 mil registros – o número é maior do que os focos de fogo em seis dos nove países da Pan-Amazônia, como Peru (4,36 mil focos), Colômbia (2,96 mil focos) e Equador (57 focos).
O Brasil também encabeça a lista dos dez territórios indígenas com maior número de focos de calor entre 2000 e 2010. O Parque Indígena do Araguaia registrou 8,84 mil deles, enquanto o Território Indígena Maraiwatsede teve 3,38 mil, aponta o estudo.
Para as ONGs responsáveis pelo relatório, o registro de focos de incêndio menor nas áreas de proteção e nos territórios indígenas aponta um papel destas reservas ambientais como “barreiras socionaturais” que impedem a expansão de queimadas e incêndios florestais.
“A baixa presença de focos de calor [nestes territórios] pode ser explicada em boa parte por estas áreas de proteção serem escassamente ou moderadamente povoadas”, afirma o atlas. (Fonte: Rafael Sampaio/ Globo Natureza)