Antes, o meio mais comum para lutar contra a caça às baleias, era assinar um abaixo assinado. Para protestar contra um político corrupto, era preciso organizar manifestações com milhares de pessoas.
Mas a popularização da internet virou esse cenário de cabeça para baixo. Em poucos segundos, você protesta a favor dos índios, doa dinheiro para as crianças refugiadas do outro lado do mundo, pressiona um político para votar ou não em um projeto de lei.
‘O ativismo online é muito mais potente. A internet é um tipo de púlpito, que antes o cidadão não tinha’, afirma Pedro Abramovay, diretor da ONG internacional Avaaz, que promove principalmente petições online.
‘A internet conecta pessoas que nunca se conectariam porque antes, para protestar, havia um filtro formado por organizações como partidos ou sindicatos. Eles são extremamente importantes, mas podem não ter interesse em determinados assuntos. E hoje não se tem mais a necessidade desses ‘intermediários”.
Agora, se por um lado, a internet faz com que essas manifestações alcancem muito mais gente, essa mudança trouxe consigo alguns novos desafios, segundo os ativistas. Um deles é fazer com que pessoa que ‘curtiu’ uma campanha no Facebook continue atuando em outras ações daquela ONG.
Renata Neder, coordenadora de direitos humanos da Anistia Internacional no Brasil, conta que dá muito trabalho manter as pessoas engajadas.
‘O segredo é saber usar o potencial de cada colaborador. Identificar que tipo de perfil ele tem. Se pode contribuir editando um vídeo ou se fantasiando para algum protesto.’
Ataques em várias frentes – Identificar o perfil de seus colaboradores também é uma estratégia usada pelo Greenpeace para mantê-los engajados.
‘É preciso ver como se comunicar com cada um deles, já que um quer receber notícias via Facebook, outro quer por email, outro não quer receber tanto e-mail. Então, separamos em nichos, ‘à mão mesmo’, para ver as necessidades de cada um’, conta Elcio Figueiredo, coordenador de campanhas do Greenpeace.
E para buscar e manter esse simpatizantes, a ONG ambiental ‘ataca’ em várias frentes, já que hoje tem canais e páginas no Facebook, Twitter, Google+, Flickr e YouTube.
‘É preciso manter um ciclo de comunicação com essas pessoas, para que ela continue participando. Procuramos fazer isso de uma forma bem direta, até personalizada, explicando o resultado de ações, enviando convites específicos para eventos na cidade onde ela vive e até telefonando’, conta Figueiredo.
‘Ativismo de sofá’ – Outra estratégia usada pelas ONGs é combinar diferentes formas de mobilização, seja em mídias sociais ou em seus desdobramentos ‘na vida real’, como atos públicos por exemplo. E aí entra outra dificuldade do ativismo atual: convencer as pessoas a saírem da frente do computador e ir para as ruas.
‘Talvez o principal desafio das organizações hoje seja justamente cobrir essa lacuna entre agir no online e no offline’, diz Figueiredo, do Greenpeace.
Em inglês, usa-se o termo ‘slacktivism’ (algo como ativismo preguiçoso) para designar uma situação em que a pessoa apoia uma causa do modo mais simples possível, como clicar em um link, e sente que já cumpriu seu papel, que já fez a sua parte.
Para vencer esse ‘ativismo de sofá’, como a expressão costuma ser traduzida em português, o Greenpeace tenta envolver o colaborador, fazendo convites e produzindo um conteúdo mais direcionado para o seu perfil, para fazê-lo se sentir mais próximo e assim convencê-lo a sair de casa.
‘Também tentamos identificar como essa pessoa trabalha online. Se ela é bem ativa na internet, há uma maior chance de ela ter um grande poder de mobilização, um maior conhecimento das causas que defendemos e, assim, uma maior possibilidade de ela participar em eventos offline’, afirma Figueiredo.
Para Abramovay, da Avaaz, dizer que ativismo online é pior ou menor que o offline é tirar das pessoas um espaço muito importante, já que muitos passam boa parte do dia na internet.
‘O importante é ver como é o meio mais efetivo – e pode ser inclusive uma mobilização de 50 pessoas, mas que por trás dela pode ter 100 mil.
Menos é mais? – Mas se por um lado muitas ONGs tentam driblar o ‘ativismo de sofá’, a ideia nem sempre é organizar megamanifestações públicas, como se fazia antigamente.
‘Atualmente, ato público não significa mobilização de massas. Hoje, basta ser algo que chame atenção. Não é mais preciso reunir 10 mil pessoas para atingir o objetivo de uma campanha’, diz Renata Neder, coordenadora de direitos humanos da Anistia Internacional no Brasil.
‘Mesmo porque, além de ser difícil mobilizar 10 mil pessoas, às vezes atos assim são criticados por atrapalhar o trânsito. Assim, algo criativo pode chamar mais atenção’, afirma a coordenadora da Anistia. (Fonte: G1)