Em uma floresta da região, tratores começaram a desmatar dezenas de hectares para a abertura de uma mina de ouro e de uma usina de processamento, que a Eldorado Gold Corporation do Canadá espera inaugurar nos próximos dois anos. A empresa também reabriu outras minas na região, extraindo ouro, cobre, zinco e chumbo das montanhas da região.
Para alguns habitantes, toda essa atividade que promete criar 1,5 mil novos empregos até 2015 é uma benção que poderia trazer um pouco de vida à sombria economia dos vilarejos da região no nordeste rural da Grécia.
Contudo, para centenas de outras pessoas, as novas minas não passam de um símbolo de como a Grécia está disposta a aceitar qualquer desenvolvimento, não importa quais sejam os custos ambientais. Essas pessoas gostam de destacar que, há apenas 10 anos, a Suprema Corte da Grécia julgou que os danos ambientais causados pela mineração na região eram maiores que os possíveis ganhos econômicos.
“O negócio irá funcionar por 10 ou 15 anos e, então, a empresa vai simplesmente desaparecer, deixando para trás a poluição, como fizeram todas as outras empresas”, afirmou Christos Adamidis, um dono de hotel que teme que as novas operações acabem destruindo outros negócios locais. “Se o preço do ouro cair, as minas podem nem durar tanto tempo. Enquanto isso, a poeira criada pelas minas irá matar as folhas da região, não haverá mais cabras, oliveiras, nem mel.”
Tensões em torno de novos esquemas de desenvolvimento estão ocorrendo em toda a Grécia, à medida que o país entra no sexto ano de recessão, ansioso para trazer indústrias que ajudem a gerar divisas e forçado pelos credores a simplificar os processos de aprovação. Ambientalistas são contrários aos planos para vender centenas de hectares para parques de energia solar, além de permitir a exploração de petróleo perto de ecossistemas delicados.
“Vemos as leis e as políticas se transformando”, afirmou Theodota Nantsou, coordenadora de políticas do WWF em Atenas. “Estamos vendo muitos avanços serem revertidos sob a desculpa de eliminar impedimentos aos investimentos. Contudo, no longo prazo os custos serão altíssimos.”
A ONG ambientalista afirma que diretrizes estão sendo ignoradas, afetando o uso do ar, da água e da terra, causando a redução das revisões obrigatórias para os planos de impacto ambiental e o aumento do uso de carvão mineral, além da probabilidade de que 95% do fundo ambiental grego – mais de US$ 1 bilhão angariados para melhorar a eficiência energética do país e para sustentar as agências de conservação ambiental – sejam absorvidos pelo orçamento geral do país.
Em junho, o WWF publicou um relatório dizendo ressaltando uma “avalanche de importantes perdas ambientais”. O fundo afirmou que a reversão de alguns progressos era uma tentativa de cumprir com as demandas do trio de credores do país: o Fundo Monetário Internacional, o Banco Central Europeu e a Comissão Europeia, que têm sustentado a Grécia nos últimos anos. O WWF também afirmou que as perdas foram igualmente causadas pelas iniciativas colocadas em prática por diversos ministérios.
Polêmica na montanha – Contudo, nenhum projeto parece ter causado mais reação do público que a retomada das operações de mineração nas montanhas ricas em minérios da região, onde reza a lenda que o próprio Alexandre, o Grande procurou ouro.
As antigas operações de mineração ascenderam e decaíram rapidamente e suas fortunas oscilaram de acordo com o preço dos metais, deixando atrás de si pilhas de dejetos acinzentados. Praticamente todas as pessoas da área contam histórias sobre como o escoamento das velhas minas deixava o mar amarelo de vez em quando.
Entretanto, o ressentimento em torno das minas parece refletir a desconfiança generalizada dos gregos em relação ao governo: a crença sincera de que a maior parte dos funcionários públicos está preocupada demais enchendo os bolsos de dinheiro à custa do país.
Nick Malkoutzis, colunista do jornal conservador “Kathimerini”, escreveu que é difícil criticar os habitantes da região por sua desconfiança quando tantas empresas são autorizadas a ignorar os regulamentos. “Talvez em algum outro país as pessoas se sentissem mais confortáveis com o projeto, uma vez que seus processos de concessão de contratos e certificados ambientais sejam transparentes e confiáveis”, escreveu, acrescentando que isso não era uma realidade na Grécia.
Oponentes reclamam, por exemplo, que quando o governo grego fez o acordo com a Eldorado, não foi capaz de garantir que o país recebesse uma parte do faturamento, prática comum em contratos de mineração. Além disso, acreditam que a carta de crédito de 50 milhões de euros dada ao governo como garantia não é suficiente, caso ocorra algum problema.
Kostas Georgantzis, porta-voz da Eldorado, afirmou que a empresa de mineração canadense havia oferecido mais, mas que o governo se contentou com menos.
Autoridades do ministério do meio ambiente da Grécia responderam a perguntas por e-mail, reconhecendo que estão revisando as regulamentações com o objetivo de “criar políticas ambientais mais modernas”, que se adaptem aos investimentos necessários. Contudo, responderam que as conclusões do relatório do WWF são “excessivamente negativas”.
As autoridades também defendem a decisão de reintroduzir a mineração na área de Chalkidiki, afirmando que o norte da Grécia constitui um “rico reservatório” de metais que valem mais de 20 bilhões de euros de acordo com os preços atuais. As autoridades afirmam que a permissão foi emitida depois de um período de avaliação de 8 anos que garantiu que as atividades de mineração não afetariam o meio ambiente.
Na verdade, as autoridades afirmam que as novas atividades garantiriam que o fluxo de resíduos tóxicos das minas abandonadas cessaria e que seriam implementadas práticas modernas de gestão de resíduos. Autoridades do ministério não foram capazes de explicar a questão da carta de crédito de 50 milhões de euros, já que o funcionário a cargo do problema estava de férias.
A Eldorado tem grandes planos para a região. A empresa pretende investir um bilhão de euros na mineradora, e seus executivos esperam que as atividades de mineração durem ao menos 15 anos.
Contudo, alguns oponentes também questionam essa informação, destacando que agora o preço do ouro é de cerca de US$ 1.700 para cada 28 gramas, tornando valiosa até mesmo a lama deixada pela antiga mineradora. A Eldorado está trabalhando para reprocessar esses resíduos, que devem conter em média 3,08 gramas de ouro por tonelada métrica. Mas a nova mina deve produzir apenas 0,73 grama por tonelada. O que acontecerá se o preço do ouro cair?
Funcionários da Eldorado afirmam que os habitantes da região não precisam se preocupar, já que o poço também irá produzir cobre. Contudo, os moradores não têm tanta certeza.
As novas operações de mineração dividiram opiniões na região, em alguns casos colocando irmão contra irmão. Com frequência, quem mais se opõe ao projeto são as pessoas que vivem perto do mar, aonde turistas vão durante o verão. Os habitantes da região montanhosa, onde há pouco trabalho, geralmente apoiam a abertura das minas.
“Esses empregos farão com que o barbeiro e o médico também tenham trabalho”, afirmou Kostas Karagiannis, que trabalha com a limpeza da floresta. “O benefício não será somente para os mineradores.” Contudo, oponentes temem a poeira e a poluição da água.
Pessoas contrárias ao projeto, entre as quais diversos aposentados, realizaram meia dúzia de protestos no ano passado e foram dispersadas pela polícia com bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha. Ambos os lados apontam dedos. Autoridades de mineração afirmam que os habitantes da região chegaram a cercar a prefeitura e aprisionar o prefeito por oito horas.
Os habitantes do vilarejo afirmam, por sua vez, que a polícia utilizou táticas pesadas em um dos protestos ao final de outubro, quando 21 pessoas foram presas.
Rania Ververidis, de 62 anos, contou que foi obrigada a sair do carro e se ajoelhar. A aposentada disse que o policial pisou em sua canela e que ainda estava mancando após três semanas. Mas, apesar disso, planejava protestar mais. Ela teme que a Grécia esteja “vendendo tudo”. “Não podemos deixar coisas desse tipo acontecerem sem que façamos nada.” (Fonte: G1)