Alterações no cultivo de uva e na produção de vinhos decorrentes da mudança climática podem impactar gravemente a biodiversidade, à medida que produtores buscarem terras em locais mais elevados para seus vinhedos.
As informações são de um artigo publicado nesta segunda-feira (8) pela revista “PNAS”, da Academia Nacional de Ciências dos EUA.
Uma equipe internacional de cientistas indicou que serão necessários esforços de adaptação agrícola e conservação para resistir aos efeitos indiretos do aquecimento global.
Para avaliar os impactos ecológicos destas mudanças, a equipe liderada por Lee Hannah, do grupo Conservation International em Arlington, no estado da Virgínia, examinou a forma como as mudanças climáticas projetadas afetarão a produção de uva para vinho.
Esta é uma indústria muito sensível às variações climáticas e se concentra em áreas de biodiversidade muito específicas, em torno do Mar Mediterrâneo e em regiões temperadas da América do Norte e da América do Sul.
“Espera-se que a mudança climática tenha impacto direto nos ecossistemas, por exemplo mediante variações nos controles climáticos das regiões onde se estendem as espécies, indiretamente com mudanças no uso humano da terra que podem resultar em perdas de habitat”, diz o artigo.
“A produção de uva proporciona um bom método para medir os impactos indiretos mediados por mudanças nas práticas agrícolas, porque a viticultura se concentra em regiões climáticas que são lugares muito importantes de biodiversidade em todo o planeta”, acrescenta o estudo.
Regiões ficarão inadequadas para cultivo – Os pesquisadores tomaram como referência diversas regiões do mundo com o que eles descrevem como “clima mediterrâneo”, apto para a viticultura, entre elas Califórnia, Chile, e a área próxima ao Mar Mediterrâneo.
Foram então elaborados modelos por computador levando em conta as variáveis da mudança climática até 2050 e, com isso, os cientistas chegaram à conclusão, por exemplo, de que a área adequada para a viticultura atualmente na Califórnia diminuirá 60% em média. A área apta para a viticultura atualmente no Chile diminuirá 25% e a da Europa terá redução de 68% na área produtiva, segundo o estudo.
“É provável que o Chile experimente um dos maiores impactos sobre a água doce nas regiões de cultivo com clima mediterrâneo”, sugere o artigo. “Por volta de 2050, a maior parte dos vales mais adequados para a produção de vinho no Chile (Maipo, Cachapoal e Colchagua) terá se tornado inadequada”.
Ainda segundo a pesquisa, a capacidade produtiva de regiões como Aconcágua e Maule diminuirá consideravelmente, o que deve forçar o emprego de água para resfriar as uvas — aumentando a necessidade de irrigação.
Para sustentar a produção do vinho, segundo os autores, os viticultores precisarão ampliar as áreas de vinhedos adotando práticas agrícolas inovadoras que, provavelmente, afetarão áreas de alta biodiversidade atualmente não afetadas pelo uso humano.
Como exemplo, os pesquisadores disseram que o estabelecimento de vinhedos em terras mais elevadas com temperaturas baixas poderia afetar os ecossistemas das montanhas, e o aumento da irrigação poderia esgotar os recursos limitados de água doce. (Fonte: G1)