A cidade de Caratinga (MG), localizada na Bacia do Rio Doce, a quase 400 km da capital Belo Horizonte, realizará entre os dias 14 e 18 de Junho uma série de atividades para marcar os 30 anos de pesquisas e proteção do muriqui e seu habitat. O evento, denominado Caratinga+30, é promovido pela prefeitura municipal e servirá também para pensar o futuro do município, mundialmente famoso por abrigar a Estação Biológica de Caratinga, um centro de pesquisas localizado no interior da Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) Feliciano Miguel Abdala.
Reconhecida como RPPN em 2002, a reserva se manteve intacta graças ao ideal de seu fundador, que nos anos 50 prometeu proteger a floresta da fazenda, enquanto a derrubada das matas vizinhas era festejada. No final da década de 1970, o proprietário encontrou um importante aliado para sua causa: cientistas interessados em realizar pesquisas de longa duração sobre os muriquis. Desde então, a área se tornou um laboratório natural para a proteção de várias espécies da biodiversidade brasileira. “A RPPN Feliciano Miguel Abdala está entre as cinco regiões de maior prioridade do mundo para a conservação de primatas”, afirma o primatólogo e presidente da Conservação Internacional, Russell Mittermeier, que marcará presença no Caratinga+30.
Os muriquis – palavra de origem indígena que significa “povo manso da floresta” – são os maiores primatas das Américas e figuram entre as cinco espécies de macacos mais ameaçadas do planeta, é considerada espécie ‘bandeira’ para a proteção da Mata Atlântica. As duas espécies – Brachyteles arachnoides (muriqui-do-sul) e Brachyteles hypoxanthus (muriqui-do-norte) – já ocupam o papel similar àqueles representados pelo panda-gigante, na China, o tigre na Índia, o orangotango, no sudeste asiático, e os gorilas, na África. A RPPN Feliciano Miguel Abdala é um dos últimos refúgios do muriqui-do-norte. Hoje, existem apenas cerca de 1.200 indivíduos na natureza, sendo que mais de um terço dessa população está em Caratinga.
Para chamar a atenção para os muriquis e torná-los mais conhecidos pela população, foi lançada uma campanha para torná-lo mascote oficial dos Jogos Olímpicos 2016, que serão realizados no Rio de Janeiro. Para Beto Mesquita, diretor para a Mata Atlântica da Conservação Internacional, uma das organizações que apoia a campanha, “transformar o muriqui em mascote olímpico aumentará o conhecimento público sobre a espécie, aumentando assim sua proteção, bem como do seu habitat, que é a Mata Atlântica.”
Ao longo dos últimos 30 anos, várias publicações técnicas e artigos científicos foram desenvolvidos, a partir das informações geradas pelas pesquisas realizadas em Caratinga. “A Estação Biológica de Caratinga é a prova de que a estratégia de conservação que se baseia na presença de longo prazo da pesquisa científica no campo, é eficiente e gera resultados definitivos. Esperamos que Caratinga continue sendo alvo das investigações de muitos pesquisadores e cientistas que queiram contribuir com a preservação das florestas tropicais”, comenta a Dra. Karen Strier, da University of Wisconsin, em Madison, nos Estados Unidos, que coordena as pesquisas em Caratinga e estará presente no evento.
A Mata Atlântica é um dos sistemas florestais mais ricos e diversos do mundo. É também um dos mais ameaçados, situando-se entre os cinco principais hotspots de biodiversidade do planeta. Esse bioma, que originalmente cobria 1,3 milhão de km2, hoje está reduzido a menos de 16% de sua extensão original. Em Minas Gerais, a situação é ainda mais grave, onde restam apenas 10% da área original do bioma cobertos por remanescentes de Mata Atlântica. O estado de Minas tem registrado as maiores taxas de desmatamento nos últimos quatro anos.
O evento de comemoração de 30 anos da Estação Biológica de Caratinga tem a colaboração de diversas universidades, instituições públicas e privadas, incluindo o Instituto Estadual de Florestas (IEF/MG), o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), a Prefeitura de Caratinga, a Universidade de Wisconsin-Madison, a Universidade do Espírito Santo, a Sociedade Preserve Muriqui (SPM) e a Conservação Internacional, com apoio de empresas locais. (Fonte: Conservação Internacional)