O projeto de um bairro sustentável começa a tomar forma em Pelotas, no sul do Rio Grande do Sul. A ideia é unir sociedade, urbanismo e sustentabilidade para criar uma região que reformule o espaço urbano – repensando casas, escritórios, praças, centros de compras; criando uma região aberta, sem barreiras, em que as pessoas vivem, trabalham e se divertem sem ter de atravessar grandes distâncias e, assim, incentivando deslocamentos a pé ou de bicicleta.
O novo bairro é um empreendimento ousado que será implementado na cidade gaúcha ao longo dos próximos oito anos. O Quartier deve investir cerca de R$ 2 bilhões na criação de uma área nova destinada a revitalizar o centro de Pelotas e servir de exemplo para iniciativas semelhantes, que incentivem o resgate da vida em comunidade, aproximando pessoas que moram próximas e às vezes nem se veem – quando ao menos se conhecem.
“Nós estamos fazendo um bairro sem muros, sem barreiras”, afirmou Nelson Proença, sócio-fundador do Guapo Capital Group, durante a apresentação de lançamento do projeto nesta terça-feira em Porto Alegre. “Esse projeto vai ‘elevar a barra’, aumentar o nível de exigência das pessoas com seus bairros”, acredita ele.
A proposta foi projetada pelo arquiteto Jaime Lerner, referência no planejamento urbano com a experiência de Curitiba, cidade que governou ao longo de três mandatos. O planejamento agrega e expande o modelo adotado na cidade paranaense, a “capital verde” do Brasil, estimulando a circulação de pedestres, o acesso a serviços e o convívio entre as pessoas – tudo com foco na preservação ambiental. O ideal do bairro sustentável é definir as pessoas como prioridade, estimulando a convivência e o acesso da população. Um objetivo que pode parecer óbvio, mas tem sido deixado de lado nas grandes cidades.
“O diferencial, hoje, é fazer um bairro normal, onde as pessoas convivem em paz, usam menos o carro, separam o lixo, moram mais perto do trabalho. É muito simples, mas o simples nem sempre é adotado pelos ‘vendedores da complexidade'”, disse Lerner. Nesse contexto, o transporte é integrado e incentiva meios de locomoção não invasivos. “A solução de mobilidade fica mais fácil, porque fica tudo por perto”, assegura o arquiteto. Nesse contexto, para os idealizadores, o automóvel seria utilizado apenas para sair do bairro: ali dentro, bicicletas e pedestres seriam predominantes.
A iniciativa foi planejada em uma área de 30 hectares nas proximidades do centro de Pelotas. O bairro Quartier garante fácil acesso a pontos importantes da cidade – e se integra a ela. A previsão é que as obras comecem em 2014 e a urbanização esteja finalizada até 2017, mas o bairro completo só deve ficar pronto depois de 2020. O escritório de engenharia Joal Teitelbaum, responsável pelo planejamento, afirma que os apartamentos na região terão preços competitivos, mas estima que uma área residencial no futuro bairro deva custar até R$ 1,5 milhão. Para os responsáveis, porém, o preço faz parte de uma nova era do urbanismo sustentável no Brasil. (Fonte: Terra)