O trabalho dos pesquisadores James Rothman, Randy Schekman e Thomas Südhof, ganhadores do Prêmio Nobel de Medicina de 2013, é muito relevante para entender como certas células liberam secreções que produzem de forma controlada, destaca Fernando Rodrigues Abdulkader, professor do Departamento de Fisiologia e Biofísica do Instituto de Ciências Biomédicas da USP.
Mais do que isso, suas pesquisas mostram que processos muito parecidos ocorrem em células com funções bem diferentes, como as glandulares e as nervosas, explica o cientista brasileiro.
Rothman, Schekman e Südhof, foram anunciados nesta segunda-feira (7) como ganhadores do Nobel de Medicina, por seus trabalhos sobre o transporte vesicular. As células funcionam como “fábricas” que produzem e exportam diferentes moléculas. A insulina, por exemplo, é produzida e secretada para o sangue, e neurotransmissores, que funcionam como sinais químicos, são mandados de uma célula nervosa para outra. Essas moléculas são transportadas em pequenos “pacotes” chamados vesículas.
Os ganhadores do Nobel deste ano descobriram os princípios moleculares que regulam como esses pacotes chegam no momento certo e no lugar certo dentro de cada célula.
“As células capazes de realizar isso que seria o que poderíamos chamar de ‘secreção controlada’ são principalmente compostas de neurônios e células glandulares, que secretam hormônios como, por exemplo, a insulina. O interessante é que, apesar de essas células à primeira vista serem muito diferentes, os mecanismos básicos investigados por Rothman, Schekman e Südhof parecem ser comuns a todas elas. Isso, de certa forma, fornece a base biológica da comunicação química controlada entre células”, detalha Abdulkader.
“A comunicação pode se dar através de neurotransmissores liberados em sinapses pelos neurônios, ou pela liberação de hormônios na circulação por glândulas específicas”, exemplifica.
O professor e pesquisador da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Marcelo Morales observa que uma das descobertas recentes relacionadas a esse mecanismo é a de que as células-tronco agem através da liberação de microRNAs que vão modular a resposta inflamatória do órgão tratado pelas células-tronco. As células-tronco, portanto, também liberam vesículas por esse tráfego intracelular.
Os representantes do Instituto Karolinska, que concede o Nobel de Medicina, explicaram nesta segunda que as pesquisas dos vencedores deste ano não levaram ainda à criação de alguma medicação, mas ajudaram a avançar a eficiência de diagnósticos de diversas doenças.
Para Morales, a premiação é importante para valorizar a pesquisa básica. “A população tem que saber que o cientista que trabalha em seu laboratório, às vezes sem reconhecimento, é responsável por uma pequena peça do grande quebra-cabeça que um dia vai chegar a uma descoberta muito importante, à cura de uma doença”, diz.
Nobel de Medicina – O Nobel de Medicina é oferecido desde 1901 e já reconheceu o trabalho de 204 pessoas – 194 homens e 10 mulheres. A média de idade dos cientistas na data do anúncio era de 57 anos, e não há premiações póstumas.
O pesquisador mais novo a receber esse Nobel foi Frederick G. Banting, que tinha 32 anos em 1923, pela descoberta da insulina.
Por nove vezes, o prêmio – que ganhou esse nome em homenagem ao inventor da dinamite, Alfred Nobel – não foi anunciado: em 1915, 1916, 1917, 1918, 1921, 1925, 1940, 1941 e 1942.
Medicina é sempre a primeira área valorizada com o Nobel a cada ano. Nesta terça-feira (8), será anunciado o de Física, na quarta (9) o de Química, na quinta (10) o de Literatura, e na sexta (11) o da Paz. O de Economia será anunciado na segunda-feira da próxima semana (14).
Os vencedores são geralmente informados pelo júri no dia do anúncio oficial e não há uma lista de concorrentes disponível previamente, o que torna a divulgação sempre uma surpresa – embora haja favoritos. (Fonte: G1)