No Sul de Santa Catarina, uma parceria entre pescadores e botos chama atenção de cientistas e estudiosos do mundo todo. Entre Laguna e Araranguá, a interação é estudada pelo professor da Universidade Federal de Santa Catarina Paulo César Simões-Lopes e também pelo professor Fábio Gonçalves Daura-Jorge.
O boto da espécie Tursiops truncatus, ou boto-de-tainha, como também é conhecido, foi declarado Patrimônio Natural do Município de Laguna pela Lei 521/97, de 1997. A dieta deste mamífero inclui peixes, lulas e crustáceos. Entre os peixes mais consumidos pela espécie estão as tainhas. Por isso, a pesca com a ajuda dos botos é mais frequente na época de migração deste peixe, entre os meses de maio e julho.
Conforme os professores, os botos agrupam as presas através de movimentos circulares. Depois, empurram os peixes contra os pescadores e, por fim, os botos executam um movimento acima da superfície, que serve de sinal para os pescadores. Este comportamento é o gatilho para o lançamento das tarrafas, que são lançadas simultaneamente, cobrindo o espaço entre os botos e os pescadores. “É um pulo mais agressivo, aí a gente entende aquele movimento do boto e sabe que tem peixe. Aqui é o boto é amigo nosso”, relata o pescador Severiano Delgado.
O cardume é desfeito assim que a tarrafa atinge a água. Os peixes fogem para várias direções. Para os botos, o benefício é a desorganização do cardume após a tarrafa ser lançada. As tainhas são peixes rápidos e formam cardumes numerosos, que se mantêm juntos e conseguem se proteger. Durante a pesca, algumas são apanhadas pelas redes e outras pelos golfinhos, o que justifica a vantagem da interação com os pescadores. Por isso, um número muito maior de tainhas é capturado pelos botos durante a interação, e de uma maneira muito mais fácil. Já para os pescadores, a vantagem é a localização dos peixes em águas pouco transparentes.
Alguns botos já são reconhecidos pelos pescadores e possuem apelidos que tem relação com alguma característica física ou com a personalidade. Nomes como “Mandala”, “Chega-mais” e “Tafarel” fizeram parte da galeria de nomes dos golfinhos.
Cerca de 50 golfinhos vivem no Complexo Lagunar do Sul, que é formado também pelas lagoas de Imaruí e Mirim. O grupo menor, com cerca de 20 membros, coopera com os pescadores, inclusive com a participação dos filhotes. Segundo as pesquisas desenvolvidas pelos professores, os filhotes acompanham as mães e imitam os movimentos. Os botos alcançam cerca de 3,5 de comprimento e chegam a pesar 300 quilos. (Fonte: G1)