A viagem em busca dos óleos da floresta começa em um dos cenários mais bonitos da Amazônia, no município de Santarém, no estado do Pará. O mercado municipal de Santarém funciona todos os dias e atrai milhares de compradores e comerciantes que chegam de todos os pontos da região. Por estar em um lugar estratégico, no encontro do rio Amazonas com o Tapajós, é um dos mais ricos e mais completos da Amazônia.
Entre os destaques do mercado estão também os óleos da floresta. Essa riqueza cultural permanece viva em toda a região. De uns anos pra cá, muitos desses produtos começaram a conquistar também compradores maiores. Indústrias utilizam os óleos como ingredientes para fabricação de perfumes, xampus, sabonetes, hidratantes.
A nova fase deu impulso a uma série de projetos que estão melhorando a qualidade de vida de milhares de famílias da região. No município de Manicoré, estado do Amazonas, uma comunidade rural trabalha com o óleo de copaíba. Formada por sítios pequenos, a comunidade de Lago do Atininga reúne 140 famílias de ribeirinhos.
A principal fonte de renda da comunidade é o extrativismo: o uso sustentável dos recursos da floresta. A atividade está crescendo nos últimos anos é extração do óleo de copaíba. A coleta ocorre o ano todo em lugares distantes, na mata.
A tarefa é difícil e, às vezes, até perigosa: entrar na floresta fechada em busca das copaibeiras – as árvores que produzem o óleo. Existem várias espécies no Brasil. Na Amazônia, a mais comum é a Copaifera multijuga, também conhecida como copal e pau de óleo. Formado por muitas substâncias, o produto é eficiente no combate a germes. Por isso, entra na fabricação sabonetes, xampus, cremes, perfumes.
O manejo, feito com cuidado,não prejudica a saúde da árvore. Em cerca de um ano, a copaibeira recupera o mesmo volume de óleo. Com o serviço terminado, os produtores fecham o furo com um pedaço de madeira. Em um dia de floresta, eles exploram entre 15 e 20 copaibeiras.
Apesar de ser tradicional, a atividade só começou a ganhar fôlego nos últimos anos. Foi quando os ribeirinhos fundaram uma cooperativa e firmaram contrato com uma indústria de cosméticos, que passou a comprar o óleo de maneira regular. Atualmente, toda produção de óleo é levada para o galpão da cooperativa, em Manicoré. Assim que chega, o produto é pesado, coado e o pagamento é feito na hora, em dinheiro vivo.
O professor Lauro Barata faz parte de um grupo de cientistas que estudam a produção de óleos na Universidade Federal do Oeste do Pará, em Santarém. O trabalho engloba pesquisas botânicas, métodos de fabricação e o cultivo das espécies.
De todas as espécies da Amazônia, a mais estudada pela equipe do professor Barata é o pau-rosa. A árvore é nativa das áreas de mata fechada e quando adulta, pode chegar a 30 metros de altura. Com nome científico Aniba Rosaeodora Ducke, o pau-rosa é da família das lauráceas, parente dos louros e das canelas. Ao longo do século 20, a espécie foi muito explorada para produção de um óleo aromático, elaborado com a madeira triturada. O auge da atividade foi nos anos 60. Na época, os principais compradores da essência eram empresas estrangeiras de perfumes finos.
Com a redução das populações nativas, nos anos 80 e 90, a produção do óleo de pau-rosa diminuiu bastante. Nessa época, as leis ambientais se tornaram mais rígidas, a fiscalização aumentou e dezenas de destilarias fecharam as portas.
Atualmente, o pau-rosa faz parte de uma lista de espécies ameaçadas de extinção. O corte da árvore só é permitido com um plano de manejo sustentável, aprovado pelo Ibama. Nos últimos anos surgiu uma alternativa. Em diferentes lugares da Amazônia, cientistas começaram a estudar o plantio e o uso sustentável da espécie.
Um ponto chave é a produção ecológica do óleo, como conta o professor Barata, um dos pioneiros no assunto. “Nossa técnica é extrair o óleo das folhas. Você corta ramos e extraí numa dorna. A árvore não precisa ser abatida. Ao contrário, você poda uma vez por ano e você uma vez por ano uma fonte de riqueza.”
Uma propriedade no município de Maués, no estado do Amazonas, desenvolve um trabalho que se tornou referência. A família de Carlos Magaldi fabrica óleo de pau-rosa desde os anos 50, em uma usina que fica dentro do sítio. Até pouco tempo, o produto era todo extraído de troncos e galhos que vinham da floresta de áreas manejadas. No campo, as árvores crescem rapidamente. Com quatro anos de idade, o pau-rosa atinge porte e já pode receber a primeira poda. Os ramos cortados rebrotam com facilidade.
Na usina, folhas e ramos secos são triturados. O material sobe por esteiras e vai sendo empurrado em cilindros de metal, os alambiques. Na sequência, o óleo de pau-rosa é separado da água, coado e vai ficando mais claro. Em um ano, a usina produz cerca 2.500 kg de óleo. Tudo é vendido para empresas estrangeiras.
Por tudo isso, Carlos Magaldi acredita que a árvore nativa poderia ser cultivada por muito mais gente. “Eu particularmente vejo como uma alternativa muito viável da Amazônia. Pequenos produtores fazendo pequenos plantios de pau-rosa ou pequenas comunidades pelo seu baixo impacto, pela facilidade de manejo e que traz uma excelente rentabilidade pro produtor.” (Fonte: Globo Natureza)