A região de Achschtyr, a dez quilômetros de Sochi, é a principal fonte de pedras para as obras de infraestrutura na sede dos Jogos Olímpicos de Inverno, na Rússia. Para garantir o acesso à rocha, a região de Achschtyr foi bastante desmatada. “Na época da União Soviética, havia em Sochi 30 metros quadrados de área verde por habitante, hoje são apenas três”, conta Vladimir Kimajew, da Vigilância Ecológica do Cáucaso do Norte.
“A construção de objetos olímpicos causou a Sochi um dano ambiental praticamente irreversível”, afirma o ativista. Ele acompanhou a destruição ambiental na região desde o anúncio da cidade sede em 2007.
No meio do parque – Os ginásios de esporte localizados no distrito de Adler, próximo ao mar, ficam a 40 quilômetros da Clareira Vermelha (Krasnaia Poliana), nas montanhas. A rodovia e a linha de trem que ligam esses dois pontos são os maiores projetos de infraestrutura dos jogos e custaram ao todo 40 bilhões de euros. Elas atravessam a reserva natural Cáucaso do Norte.
No leito do rio Mzimta, o maior da região, estão fixados os pilares que sustentaram a rodovia. “Era o único rio da Rússia com margens compostas por uma mistura especial de areia e pedra. Uma uma praia natural foi destruída com as obras”, afirma Kimajew.
As instalações esportivas da Clareira Vermelha também foram construídas às custas do desmatamento, que é visível do teleférico que leva ao estádio de biatlo. O percurso dura 10 minutos e parece um caminho da destruição: árvores cortadas e escombros.
Lá em cima, o administrador da Arena, Andrej Markov, conduz a visita pelo estádio construído para receber 7.500 pessoas. Quando questionado sobre os aspectos ambientais do projeto, ele desconversa. “Para construir algo assim aqui é preciso ser ativo. Nós pedimos desculpas pelas árvores que derrubamos, mas não é possível construir aqui de outra maneira”, justifica.
Sem desmatamento, sem estádio – A promessa era uma Olimpíada sustentável em Sochi. Na última terça-feira (4), antes da aberturas do evento, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, visitou um criadouro de leopardos, que deverão ser reintroduzidos na natureza da região após a competição.
Para Putin, os jogos não prejudicaram o meio ambiente. E os funcionários da prefeitura de Sochi têm a mesma opinião. “As obras das instalações esportivas não estão sendo monitoradas apenas pelo Comitê Olímpico Internacional, mas também pelo Ministério de Meio Ambiente”, assegura Zhanna Grigorieva, assistente do prefeito da cidade.
Um parque destinado a aves, criado para os jogos, deve representar a sustentabilidade do evento. Uma nova floresta também deverá nascer. “Para cada árvore cortada foi plantada uma nova em outro local”, afirma Grigorieva. O país teria destinado 1,5 bilhão de euros ao reflorestamento.
Mas Kimajew não acredita em jogos sustentáveis. “Até estão sendo feito compensações pântanos com plantio de árvores, mas o que é isso? Estão sendo introduzidas na região palmeiras da Itália, que não são típicas daqui.”
Problemas de saúde – Em Achschtyr, onde as pedreiras trabalham a todo vapor, a população reclama de poeira no pulmão. Os poços artesianos locais secaram devido à exploração da pedreira. O ruído dos 250 caminhões que diariamente cruzam as ruas destruídas também deixou muitos moradores doentes.
“Além disso, ninguém mais quer comprar as frutas e verduras que antigamente vendíamos nas feiras, e que eram a nossa fonte de renda. Reclamam que elas estão cheias de poeira”, acrescenta Alexander Koronow, morador de Achschtyr.
Algumas pequenas intervenções de Vladimir Kimajev foram bem-sucedidas, o que trouxe a ele e a sua equipe um pouco de esperança. Uma das pistas planejadas, por exemplo, foi mudada de lugar. Os ambientalistas também impediram a construção de um segundo porto no Mar Negro.
Com o fim das obras, a maioria dos moradores de Sochi se animou com os jogos. O fato de a Rússia se mostrar para o mundo e de a cidade ganhar um pouco de infraestrutura empolgam os residentes.
“A cidade teria se desenvolvido mesmo sem as Olimpíadas, embora não tão rapidamente. É a única região turística no sul da Rússia que tem um significado no país inteiro. O dinheiro do orçamento federal também teria ido parar nas administrações regionais e locais”, opina Kimajev.
Depois dos jogos de inverno, o ativista vai continuar seu trabalho. Ele luta pelo o uso sustentável da herança olímpica e para a recuperação da natureza única no Cáucaso do Norte. (Fonte: Terra)