Paulo Amorim, administrador da Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) Revecom, em Santana, no Amapá, disse que acordou nesta quarta-feira (26) ‘para ouvir pela última vez o som dos pássaros’ que mantinha há mais de 15 anos. As aves foram as primeiras dos 72 animais retirados nesta quarta-feira pelo Ibama. Os bichos foram doados ao Estado por ocasião da crise financeira pela qual passa a reserva desde 2011.
Araras, papagaios e tucanos, além de jabutis e micos, foram levados para o Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas) em Macapá, de onde serão encaminhados para zoológicos e reservas em outros estados, já que não há no Amapá outra RPPN e o único zoológico não está legalizado para receber animais.
Os animais retirados da reserva nesta quarta-feira foram os primeiros dos 515 que ainda deixarão a área de 171 metros quadrados em que viviam, na Revecom.
“É triste ver um trabalho de dedicação ter que ser desfeito em função da falta de investimento em um local destinado para a preservação do meio ambiente”, lamentou Paulo Amorim.
Um grupo de estudantes de biologia da Universidade Federal do Amapá (Unifap) acompanhou a retirada dos animais e manifestou contra a ação. Eles pediam investimento público na área. A estudante Tayná Souza chegou a chorar quando o caminhão do Ibama deixou a reserva levando alguns animais.
“Um trabalho tão bonito. Está sendo difícil vê-lo se desfazer, mas, além disso, estamos verificando se os animais vão ser levados de forma adequada para o Cetas, que não tem uma estrutura para receber esses bichos”, disse Tayná, que promove nas redes sociais uma campanha em que recolhe assinaturas para uma petição destinada à reabilitação da RPPN amapaense.
Animais de grande porte, como uma onça-pintada, um gato maracajá e um gavião-real, vão aguardar a definição de locais adequados para serem transportados.
Paulo Amorim disse que somente um investimento permitirá à Revecom receber novamente grupos de estudantes e visitantes interessados em conhecer as trilhas existentes na reserva. Ele contou que para manter a Revecom com os mais de 500 animais que havia abrigado precisava de ao menos R$ 30 mil mensais, para alimentação dos bichos e limpeza do ambiente e pagamento de servidores. Segundo Amorim, a reserva recebia, no entanto, R$ 8 mil mensais, doados por parceiros, e parte da alimentação dos animais que era doada por empresários do ramo alimentício.
Médico aposentado que há mais de 15 anos se dedica à reserva, Paulo Amorim disse que outro fator que contribuiu para a doação dos animais da reserva foi a contaminação do solo e da água da Revecom, através do esgoto jogado sem tratamento no rio Amazonas, que banha parte da reserva e servia aos bichos. “A tubulação de metal tem mais de 50 anos e apresenta corrosão em alguns pontos, o que causa o mau cheiro na área”, disse.
O superintendente do Ibama no Amapá, César Luís Guimarães, disse que o órgão não tem poder para repassar recursos para manutenção do local, e que a incumbência do instituto é apenas de garantir a preservação das espécies.
“Essa transferência tem que ser o mais rápido possível pois essa estrutura que a Revecom oferece não dispõe mais de fundos e como nós não temos também, a responsabilidade tem que ser nossa [Ibama]. Para o transporte das aves, estamos dando toda a estrutura, e dentro do Cetas vamos dar todo o cuidado para esses animais”, disse Guimarães. (Fonte: G1)