Depois de perder alguns de seus engenheiros aeroespaciais devido à explosão ocorrida na Base de Alcântara em 2003, o Brasil ainda está tentando compensar parte do tempo perdido para se colocar entre as nações em condições de desenvolver satélites e colocá-los em órbita. Com esse objetivo, está recebendo desde sábado, até o dia 31, Jordi Puig-Suari, uma das maiores autoridades internacionais no desenvolvimento de satélites de pequeno porte – os nanossatélites.
Jordi Puig-Suari é, ao lado de Bob Twiggs, o inventor dos nanossatélites. Professor de engenharia aeroespacial da Universidade Politécnica da Califórnia, ele vem ao País para fazer a revisão crítica dos nanossatélites que estão sendo construídos e que, a partir de junho, serão colocados em órbita: o NanosatBR1, o AESP-14, o Projeto Serpens, o ITASat, e o UbatubaSat.
Com peso entre um e cinco quilos, os nanossatélites têm diversos tipos de aplicações. Em geral, são usados para sensoriamento remoto da superfície terrestre, por meio de fotografias de alta resolução, para a coleta de dados meteorológicos e hidrográficos, o desmatamento, as irradiações atmosféricas e outros tipos de experiências científicas.
Os nanossatélites têm vantagens em relação aos satélites normais, disse Puig-Suari após desembarcar no País. “Antes de tudo, eles têm menor custo e, pela menor dimensão, é mais barato, fácil e rápido colocá-los em órbita. São mais fáceis de serem operados e, o mais importante: têm uma engenharia de sistema mais integrada”, acrescentou.
Apesar de pequenos, os nanossatélites têm todas as partes dos grandes satélites: antenas, comunicação por rádio, sistema de controle de energia, painel solar, estrutura (uma espécie de esqueleto do satélite), computador de bordo, sistemas de posicionamento e de propulsão. “A diferença é que todas elas estão em apenas um compartimento”, disse o engenheiro aeroespacial.
Esse tipo de satélite pode fazer de tudo, tanto para fins comerciais, como científicos e industriais. A Nasa (agência espacial dos EUA) e a agropecuária norte-americana usam bastante esse tipo de tecnologia. “E a tendência é que esse uso seja cada vez maior (nessas e em outras áreas). Até porque as tecnologias estão cada vez menores”, explicou Puig-Suari.
Geralmente, os nanossatélites são mais baratos também por não usarem equipamentos específicos para satélites, e sim aqueles que são encontrados com mais facilidade no mercado. Eles não são feitos para durar muito mais tempo do que os satélites de maior porte, mas têm melhor custo-benefício.
“Esses satélites tornam o acesso ao espaço mais simples. São mais fáceis de serem construídos e é mais rápido lançá-los. Com isso, o projeto avança mais rapidamente e, no caso do Serpens (Sistema Espacial para Realização de Pesquisas em Experimentos com Nanossatélites), isso ajudará na preparação de estudantes”, acrescentou o pesquisador.
O estímulo a estudantes é o que mais empolga o coordenador de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação da Agência Espacial Brasileira (AEB), Jean Robert Batana. “O Projeto Serpens vai desmistificar a cultura espacial das universidades que têm o curso de engenharia aeroespacial. Os resultados e conhecimentos estimularão mais universidades e escolas, fazendo com que o Brasil entre em um novo patamar da atividade espacial”, disse Batana.
A velocidade com a qual as tecnologias são desenvolvidas é outro ponto que favorece os nanosatélites, podendo, inclusive, diminuir as diferenças com outros países já que, com elas, novos pontos de partida surgem a todo momento.
“Vislumbramos, em um futuro próximo, vários jovens criando pequenas empresas para fornecer componentes e estruturas ao mercado. E vamos recuperar um pouco da inteligência perdida em Alcântara”, acrescentou Batana. Segundo ele, esse projeto envolve mais de 100 estudantes de diversas universidades federais brasileiras.
O satélite do Projeto Serpens está sendo construído na AEB e custará R$ 3 milhões – valor que inclui os gastos com o satélite, quatro estações em terra (postos de comando) e 20 sensores que enviarão dados e se comunicarão com o satélite a partir de diversos pontos espalhados pelo País. A verba inclui a instalação de um laboratório na AEB.
“Começamos com esse projeto em agosto de 2013, e o lançamento será feito em um intervalo menor do que um ano”, comempora a professora da Universidade de Brasília (UnB) Chantal Cappelletti, especialista em projetos de sistemas espaciais.
Dos nanossatélites que estão sendo desenvolvidos no Brasil, o primeiro a ser colocado na órbita será o NanosatBR1, em 1° de julho, por um foguete russo. Ele testará o comportamento de placas e circuitos em ambiente espacial e fará experimentos científicos de medição da ionosfera para auxiliar estudos sobre meteorologia e telecomunicações.
Os demais satélites serão colocados em órbita em setembro, por meio de uma parceria com o Japão, a partir da Estação Espacial Internacional (ISS). Todos estão em fase de produção em diversas universidades e institutos brasileiros – como a Federal de Minas (UFMG), de Santa Maria (UFSM), a UnB, a Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), o Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) e o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). (Fonte: Agência Brasil)