Uma nova teoria sugere uma inusitada conexão entre a extinção dos dinossauros e a distribuição da misteriosa matéria escura, que compõe 85% da massa do Universo mas não interage com a matéria comum que nos cerca.
Lisa Randall e Matthew Reece, físicos da Universidade Harvard, em Cambridge (EUA), sugerem que o evento responsável por aniquilar aqueles animais gigantes pode ter sido um cometa cuja órbita foi desviada pela matéria escura. Mas como?
A colisão que marcou o fim dos dinossauros ocorreu há 65 milhões de anos. Esse impacto, que deixou sinais de uma enorme cratera no México, não foi o único da época. Segundo os físicos, é possível que uma chuva de cometas –uns maiores, outros menores– tenha ocorrido então. E pode ser que isso esteja castigando a Terra a cada 35 milhões de anos.
O fenômeno se explica porque o Sistema Solar se move em uma trajetória ondulada ao longo da Via Láctea e pode estar atravessando um disco de matéria escura concentrada no plano de nossa galáxia. A cada travessia, cometas posicionados na nuvem de Oort –a última zona orbital do Sistema Solar, além de Plutão– seriam lançados na direção de planetas mais próximos ao Sol, como a Terra.
“Essa é uma ideia muito especulativa, claro”, disse Randall, em entrevista à Folha. “Mas nós estamos mostrando como submetê-la a ciência real, que poderá mostrar se ela está ou não certa.”
Em estudo já aceito para publicação na revista “Physiscal Review Letters”, os autores dizem que a evidência estatística para a teoria não chega a ser acachapante, mas ainda assim é sedutora.
Registros de crateras com mais de 20 km de diâmetro mostram que impactos de grandes objetos até podem ter uma distribuição temporal aleatória. A teoria que prevê chuva periódica de cometas, porém, tem chance três vezes maior explicar o histórico geológico de crateras.
Mesmo especulativa, a ideia de Randall –autora do best-seller “Batendo à Porta do Céu”, recém-lançado no Brasil– foi bastante comentada nas últimas semanas entre físicos teóricos. É difícil dizer se a mesma hipótese, partindo de um físico obscuro, teria conquistado status.
Um dos problemas com a teoria é que ninguém sabe se o tal disco de matéria escura de fato existe. Astrônomos estão seguros de que há um bocado de matéria escura na galáxia, mas não sabem muito bem como ela se distribui. Estruturas cósmicas em forma de disco costumam se formar quando os corpos que a compõem perdem parte da energia. Essa “dissipação de energia” é um conhecido fenômeno da matéria comum. Elétrons acelerados emitem uma forma de radiação, por exemplo, dissipando energia.
“Tal mecanismo, porém, não faz parte do que é considerado matéria escura padrão” diz Davi Rodrigues, astrofísico da UFES (Universidade Federal do Espírito Santo). Sem dissipação de energia, a matéria escura teria uma distribuição mais homogênea e não haveria um plano de matéria concentrada para perturbar cometas.
A entidade descrita por Randall e Reece é “uma matéria escura exótica com certa autointeração capaz de conferir a ela uma distribuição mais semelhante à matéria bariônica [matéria ordinária]”, segundo Rodrigues.
Independentemente da natureza do tipo de entidade que o compõe, o disco de matéria escura, caso exista, terá sua presença detectada pelo telescópio espacial Gaia, que passará os próximos cinco anos mapeando a Via Láctea.
“Ao medir a velocidade e a posição das estrelas, o Gaia vai nos mostrar o potencial gravitacional delas, e isso dirá se a distribuição delas é consistente com um disco escuro”, afirma Randall. (Fonte: Folha.com)