Em que casos o ser humano deve intervir no curso da natureza? Esta questão veio à tona recentemente nos Estados Unidos por causa de dois animais que foram encontrados feridos. Em um caso, autoridades ambientais do Minnesota acharam um alce com um ferimento aberto no lugar do rabo, e, ao concluir que era o resultado de um ataque de lobos, resolveram não intervir. No mesmo estado americano, no entanto, outros funcionários ajudaram um filhote de águia com uma asa quebrada, cujo ninho estava sendo filmado com as imagens transmitidas ao vivo pela internet.
“Depende das circunstâncias de cada caso, e frequentemente depende de como o homem afetou a situação”, opina Doug Inkley, um cientista da Federação Nacional de Vida Selvagem dos Estados Unidos.
Inkley e outros biólogos da vida selvagem têm uma forte preferência em confiar na sabedoria da natureza, apesar de ele afirmar que a intervenção pode ser justificada em caso de espécies ameaçadas de extinção – porque cada animal é necessário para manter a diversidade genética – ou quando seres humanos provocaram o problema.
A porta-voz do Parque Nacional de Yellowstone, Amy Bartlett, conta que os funcionários do parque raramente intervêm. O único caso de que ela se lembra é o de um urso-pardo atropelado por um carro há muitos anos. Eles tentaram salvá-lo por causa de seu status de proteção ambiental, mas ele morreu, segundo ela.
Funcionários do Departamento de Recursos Naturais de Minnesota anunciaram uma política de não-intervenção quando lançaram a “EagleCam”, uma câmera que transmite, ao vivo, imagens de um ninho de águias. A página atraiu uma grande audiência online quando três águias nasceram. Mas logo se tornou aparente que uma das aves enfrentava problemas.
Espectadores preocupados exigiram que fosse tomada uma atitude, com uma enxurrada de posts na página do Facebook do programa de vida selvagem do estado e até com ligações para o gabinete do governador. Funcionários cederam e tiraram o bebê-águia do ninho.
“As mídias sociais tiveram um grande impacto em nossa tomada de decisão”, disse Lori Naumann, porta-voz do programa. “Começou com um pouco de preocupação e depois isso cresceu até quase o ponto de violência. Tive que deletar alguns posts e bloquear algumas pessoas de nossa página”, disse.
A pequena águia foi levada para o Centro de Aves de Rapina da Universidade de Minnesota, onde veterinários descobriram que ela tinha uma asa quebrada e uma infecção. Ela não tinha chance de sobreviver na natureza e nem de viver sem dor em cativeiro, então optaram por uma eutanásia.
Segundo Naumann, funcionários do Departamento de Recursos Naturais de Minnesota estão preocupados com o precedente que pode ter sido aberto com o bebê-águia.
Já o alce acabou tendo mais sorte.
Foram os moradores da região de Gunflint Trail, no nordeste de Minnesota, que o encontraram com o ferimento há algumas semanas. O lenhador Mark Ceminsky conseguiu chegar perto do animal e tirar algumas fotos. Ele disse que o alce, uma fêmea, estava com dor, cansado e que o ferimento estava infeccionado. Mais tarde, ele viu que ela estava grávida.
Ele ligou para o funcionário Darin Fagerman, do Departamento de Recursos Naturais de Minnesota, que observou o animal e constatou que ele parecia forte o suficiente para ficar em pé, então decidiu não interferir.
Ceminsky constatou, posteriormente, que a atitude foi acertada. O alce está bem e seu ferimento está se recuperando de forma adequada. O melhor de tudo, segundo ele, foi ter visto os rastros de um bebê-alce perto da mãe há alguns dias. (Fonte: G1)