Os netos de Ernest Hemingway navegaram até a vila de pescadores que inspirou “O velho e o mar” nesta segunda-feira (8) em uma campanha para salvar peixes como o marlim gigante que arrastaram o fictício personagem Santiago no mar.
John e Patrick Hemingway chegaram em Cojimar, nos arredores a leste de Havana, para iniciar uma visita de uma semana na busca por recrutar cientistas marinhos cubanos para se juntarem ao esforço para conservar os peixes-agulha e os recursos naturais no Estreito da Flórida.
Os peixes-agulha incluem espécies de marlim, veleiro e peixe-espada, os quais Hemingway foi fundamental para a sua catalogação 80 anos atrás, quando levou seu barco de pesca Pilar de Key West até Cuba.
“Nós sentimos muito fortemente sobre isso porque nos conecta com o meu avô e seu amor pela pesca e seu amor por Cuba”, disse John Hemingway. “Nós pensamos que é extremamente importante que ambos os países trabalhem juntos nisto. Ambos utilizam essa água.”
Mais de 100 pessoas, incluindo estudantes, saudaram o iate dos Hemingway durante sua navegação por Cojimar, desde a Marina Hemingway, na costa oeste de Havana.
Eles colocaram flores sobre o busto do “Papa”, que passou anos em Cuba, incluindo longas temporadas em Cojimar, a cidade natal sem nome do protagonista de “O velho e o mar”. O trabalho rendeu a Hemingway o Prêmio Pulitzer de ficção em 1953 e ele foi agraciado com o Prêmio Nobel de Literatura um ano depois.
A delegação está comemorando o 60º aniversário do Nobel de Hemingway e os 80 anos da viagem do iate Pilar para Cuba.
Os peixes-agulha ainda precisam se recuperar da sobrepesca imprudente da década de 1970 e permanecem sob ataque da indústria da pesca comercial, disse David Die, um cientista do Comissão Internacional para a Conservação do Atum no Atlântico.
Cuba já não possui uma grande frota para águas profundas, mas os pescadores de água rasa ainda apanham estes peixes em suas redes, afirmou Die, que faz parte da delegação.
Ele e outros especialistas da pesca se reunirão com colegas cubanos e governo para incentivar Cuba a se juntar à comissão internacional. Esta participação daria à Cuba melhor acesso às mais recentes técnicas de ciência e conservação.
O nome de Hemingway dá um impulso valioso, disse Die.
“Você pode apenas ver atrás de mim quantas pessoas apareceram”, disse Die, com a cidade ainda movimentada pela cerimônia. “Se eu chegasse apenas com os meus colegas biólogos, ninguém estaria aqui.”
Estados Unidos e Cuba mantêm uma rivalidade desde que Fidel Castro tomou o poder na revolução de 1959 e Washington impôs um embargo comercial global à Cuba, em 1961, o mesmo ano em que Hemingway morreu.
Embora as relações bilaterais em matéria de imigração e de interdição de medicamentos tenham se tornado mais pragmáticas, não há conversas formais entre os governos sobre o meio ambiente.
“Esperamos com esta delegação que possamos começar a compartilhar mais informações entre cientistas cubanos e norte-americanos, assim como fazíamos antes do embargo”, disse Robert Peck, pesquisador sênior da Academia de Ciências Naturais da Filadélfia. “Precisamos ter os dois governos conversando. Conservação é uma questão que não conhece limites políticos.” (Fonte: G1)