Entender como o corpo humano evoluiu ao longo de milhares de anos pode ajudar a entender as doenças que mais afetam a população hoje e pensar em estratégias para preveni-las e tratá-las. O pesquisador Daniel Lieberman, diretor do Departamento de Biologia Evolutiva Humana da Universidade de Harvard, falou sobre a medicina evolutiva no 1º Fórum Medicina do Amanhã, que acontece nesta sexta-feira (19) e sábado (20) no Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo.
Muitas das doenças comuns de hoje e que não afetavam tanto nossos antepassados – como as doenças cardiovasculares, diabetes, câncer e Alzheimer – podem ter relação com um descompasso entre a evolução do corpo humano e a evolução cultural. Lieberman diz que, apesar de o corpo humano continuar evoluindo e se adaptando, isso ocorre de forma muito mais lenta do que as mudanças ambientais e culturais.
No período paleolítico, por exemplo, os homens comiam de 1 a 4 kg de açúcar por ano. Já a quantidade de fibra anual era de 40 kg. Hoje, um americano médio come de 45 a 50 kg de açúcar por ano e só 7 kg de fibra. A quantidade de atividade física praticada também é cada vez menor. A consequência é que há, hoje, muito mais doenças relacionadas à obesidade e à falta de atividade física.
Evolução x saúde – O pesquisador lembra que as adaptações evolutivas têm como objetivo garantir a capacidade de reprodução do ser humano, mas nem sempre promovem a saúde. “A gordura é especialmente importante para a reprodução. Portanto, ter vontade de comer açúcar e gordura também é uma evolução”, diz o pesquisador.
Lieberman conta que a tendência é que a medicina evolutiva saia da academia e entre para a prática clínica da medicina. “O fato de eu ter sido convidado para este evento por médicos é evidência de que não são só professores estão interessados nesta área, mas todo mundo. Se você olhar para as prateleiras de livros de auto-ajuda nos EUA e Europa, há muitos livros de sobre medicina evolutiva (sobre a dieta do Paleolítico, por exemplo). Então os pacientes também estão interessados. Nem sempre eles estão entendendo direito, mas têm um enorme interesse nisso”, afirma.
Currículos de cursos de medicina como o da Universidade de Yale já incluem disciplinas de medicina evolutiva.
Dieta do Paleolítico – O pesquisador tem uma visão crítica sobre uma das abordagens mais populares da medicina evolutiva, a chamada dieta do Paleolítico, que propõe que as pessoas comam como os homens da caverna para ter uma vida saudável.
“Por um lado, é uma boa ideia, mas há dois problemas. Eles dizem que não deveríamos comer leite ou legumes. Isso é bobagem! Tivemos evolução desde que a agricultura surgiu, o que levou a muitos de nós digerir leite, então por que não deveríamos tomar leite? Em segundo lugar, só porque os homens da caverna comiam, não significa que é necessariamente saudável. Ou só porque fazemos de outra forma hoje, não significa que não é saudável.” (Fonte: G1)