Cientistas punidos pela Fapesp dizem que processo é injusto

Cientistas que tiveram seu nome divulgado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) como casos de violação às boas práticas científicas se queixam da medida tomada pelo órgão e afirmam terem sido injustiçados. Entre as acusações, estão a de falsa coautoria, plágio e fabricação de dados.

Eles foram punidos com medidas como o cancelamento de bolsas e a impossibilidade de solicitar novos recursos. Três dos cinco citados pela fundação na última terça-feira (7) responderam aos contatos do G1.

Processado por plágio após reproduzir em sua tese de doutorado um trecho de 30 linhas de outro livro sem usar aspas, Javier Amadeo, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, afirma que reconhece o erro, mas diz que não houve má fé na utilização das referências. “Isso na minha visão diferencia o erro da má conduta científica. Lamentavelmente essa não é a interpretação da Fapesp”, afirmou, por e-mail.

Amadeo afirma que tentou recorrer do processo, mas o recurso não foi aceito pela Fapesp e a decisão foi mantida. “Discordo complementarmente do método utilizado”, completou.

Acusado de falsa autoria de artigos incluídos na plataforma Lattes, do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), Flávio Garcia Vilela, da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da USP, em Pirassununga, diz que foi julgado de maneira “unilateral”. “A minha defesa será feita perante o Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo. Meu advogado está cuidando de todos os detalhes. O processo será agora decidido por um juiz de direito e não mais pela Fapesp”, afirmou.

Também processado por plágio, Antonio José Balloni, do Centro de Tecnologia da Informação Renato Archer, em Campinas, afirmou que o processo é “em grande medida, injusto”. “Minha pesquisa é genuína, inovadora e inédita. Sem a menor sombra de plágio ou coisa que o valha”, afirmou.

Segundo Balloni, o problema identificado em seu trabalho foi na parte da revisão teórica. “A pressa em submeter o plano de trabalho à Fapesp e a sobrecarga de trabalho me induziram a não fazer algumas citações adequadamente dentro das normas previstas pela ABNT. Longe de querer aproveitar-me de trabalhos alheios, prejudicar autores, roubar ideias ou causar qualquer outro mal, tudo que tenho a dizer é que foi uma lamentável desatenção de minha parte – que deve ser relevada.”

Ele diz que sua suspensão por um ano acabou em abril deste ano, e que a fundação não deveria ter mencionado seu nome em relação a algo que já prescreveu. Balloni argumenta ainda que seu processo de defesa não foi completado. “Dois últimos documentos meus não foram analisados e tive o direito de defesa cerceado”, afirma. “Mesmo assim uma decisão precipitada foi tomada… Absolutamente não fui avaliado em conformidade com minha defesa.”

O cientista diz ainda que os textos usados na fundamentação de seu trabalho “têm similares encontrados em dezenas de outras produções acadêmicas”. “Nada que foi usado (..) para contextualizar o projeto de bolsa Fapesp era inédito nem de fundamental importância para a proposta: ao contrário, minha proposta, sim, é que é inédita”, defendeu-se.

“Um exemplo do que os analistas da Fapesp se valeram é a definição de qui-quadrado (uma ferramenta estatística criada pelo matemático britânico Karl Pearson em 1900 e que nem o autor ‘plagiado’ lembrou de citar): há no mínimo centenas de livros e artigos que trazem essa definição. Portanto, deixar de citar pode até desmerecer involuntariamente o autor do texto, mas nada de inédito, inovador, moderno há ali que venha a ser reciclado e mereça ser tachado de plágio”, argumenta. “A academia deveria olhar mais de perto a questão do que é ou não plágio”, concluiu.

Procurada pelo G1, a Fapesp não quis comentar os comentários dos pesquisadores.

Os outros dois cientistas citados pela fundação, Andreimar Martins Soares, da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP, e Cláudio Airoldi, do Instituto de Química da Unicamp, não se manifestaram quando procurados por e-mail pelo G1 e também não foram encontrados por telefone. (Fonte: G1)