Na Patagônia não existiam castores. Mas, há décadas, vinte casais foram levados para lá para iniciar o negócio das peles. Hoje, estes animais viraram uma praga, que ameaça a biodiversidade local. As espécies sempre migraram. O vento leva as sementes, os animais nadam e voam, mas nem todos podem cruzar oceanos como o Atlântico ou montanhas como as da Cordilheira dos Andes.
De forma intencional ou acidental, a ação humana (como transporte, comércio e turismo) introduziu espécies em hábitats que não eram delas, transformando-as em invasoras. Atualmente, elas se tornaram ameaças à biodiversidade, pois destroem a flora e a fauna originais.
“Quando se perde a biodiversidade, se perde um banco genético”, necessário para alimentar ou criar medicamentos, explica Fernando Baeriswyl, coordenador do projeto do Fundo Mundial para o Meio Ambiente (GEF, na sigla em inglês) voltado às espécies invasoras no Chile.
Em seu hábitat, na Europa e na América do Norte, os castores vivem em equilíbrio, mas na Patagônia se alimentam de uma floresta que não é capaz de se regenerar no mesmo ritmo, nem possuem um predador natural. Os roedores usam as árvores para construir diques de até três metros, inundando, secando ou alterando cursos de rios. Em poucos anos, eles colonizaram ilhas e já conseguiram cruzar até o continente.
Seu avanço foi tão rápido que hoje são uma praga difícil de erradicar. As autoridades dos dois países que compartilham a Patagônia, Chile e Argentina, autorizaram a caça dos animais, mas os esforços têm sido insuficientes. Agora, os dois países “se fixaram como objetivo não restar mais castores”, exterminando por completo esta espécie invasora, disse Adrián Schiavini, especialista em castores do Centro Austral de Pesquisas.
O ser humano é, por excelência, a espécie mais invasora do planeta. Surgiu na África e se expandiu, modificando todos os ecossistemas. Paradoxalmente, dele depende evitar mais invasões e também reduzir seu impacto no entorno.
Mais vulnerabilidade – Na reserva Huilo Huilo, no sul do Chile, dezenas de especialistas em espécies invasoras, como o castor, se reuniram em 22 e 23 de outubro, no Primeiro Encontro Nacional de Espécies Invasoras em Áreas Protegidas, constatando o desconhecimento e a falta de normas para enfrentar o problema.
As espécies invasoras pegam carona em compartimentos de carga dos navios, nas roupas, sapatos ou estômagos das pessoas que viajam e, quando chegam a um ambiente novo, seus predadores naturais inexistem.
Ali eles crescem, causam novas doenças e se tornam alimento de outros animais, que mudam sua dieta. Pouco a pouco, alteram o equilíbrio dos ecossistemas e, na pior das hipóteses, extinguem outras espécies.
Segundo os especialistas, as espécies invasoras são, ao lado da poluição e das mudanças climáticas, um dos fenômenos mais nocivos para o nosso planeta. “As mudanças climáticas provocam uma vulnerabilidade maior de certas espécies aos efeitos das espécies invasoras”, explicou Víctor Carrión, administrador do Parque Nacional de Galápagos, no Equador.
Segundo um estudo da Universidade do Chile, existem no país 119 espécies exóticas invasoras e 27 delas representam uma ameaça para a biodiversidade do país: a vespa-alemã (Vespula germanica), a alga Didymosphenia geminata (conhecida como didymo), o vison (Mustela vison), o castor (Castor fiber), uma espécie de arbusto conhecido como tojo (Ulex europaeus), o veado-vermelho (Cervus elaphus), o javali (Sus scrofa scrofa), entre outras.
O simples ato de encontrar uma planta durante um passeio e levá-la para casa para colocá-la no jardim pode ser o gatilho de uma catástrofe ecológica. É o caso da amora-preta (Rubus fructicosus), um arbusto espinhoso cujos frutos são usados para preparar geleias. “Quando ela chega, é uma sentença de morte”, disse Baeriswyl.
A planta invade a terra debaixo das árvores e impede que as outras plantas façam a fotossíntese sob suas folhas, além de tirar-lhes a água. O mesmo acontece com os coelhos, as cabras e os cães. Muitos acham que são espécies nativas, mas na verdade, eles nunca teriam chegado a certos locais sem a mão do homem.
Morte às espécies invasoras? – Quando os europeus começaram a navegar nos mares da América do Sul, eles decidiram deixar cabras nas ilhas que visitavam, para no futuro garantir o alimento. Elas comiam todas as plantas, provocando erosão e afetando os ecossistemas.
Depois de centenas de anos, nas Ilhas Galápagos conseguiu-se erradicar cerca de 270.000 cabras em dez ilhas, bem como gatos, pombos domésticos, asnos e roedores, explicou Carrión. O entrave são grupos de defensores dos animais, que criticam os métodos.
“Quando controlamos uma planta, não acontece nada, porque a planta não chora”, explicou Fabián Jaksic, zoólogo da Universidade Católica do Chile. No caso dos castores, eles são eliminados com armadilhas que garantem uma morte rápida.
O ser humano é, por excelência, a espécie mais invasora do planeta. Surgiu na África e se expandiu, modificando todos os ecossistemas. Paradoxalmente, dele depende evitar mais invasões e também reduzir seu impacto no entorno. (Fonte: G1)