Queda no desmate é boa notícia, mas problema não acabou, dizem ONGs

Para ambientalistas ouvidos pelo G1, a queda de 18% no desmatamento da Amazônia anunciada pelo Ministério do Meio Ambiente nesta quarta-feira (26) é “razoavelmente positiva”. Eles alertam que, apesar da redução, os 4.848 km² de área desmatada entre agosto de 2013 e julho de 2014 superam o menor índice registrado até então, em 2012, quando o desmate foi de 4.571 km².

Além disso, dados paralelos aos do governo referentes aos meses de agosto a outubro deste ano sugerem tendência de crescimento no desmate. Por isso, para as ONGs, é necessário atenção a partir de agora.

Beto Veríssimo, pesquisador-sênior da organização Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), disse que o sistema de referência do ministério, o Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal (Prodes), do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), é bom e confiável.

Ele ressalta que o método é diferente daquele usado pelo Imazon para elaborar o Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD). Em outubro, o Imazon havia divulgado tendência de crescimento no desmate da Amazônia. Também é diferente do sistema do governo que detecta foco de desmates em tempo real, o Deter. Isso, segundo ele, permite registros divergentes de uma mesma área.

“Como qualquer fenômeno medido, é importante ter um outro sistema. O nosso é de alerta, para acompanhar e pressionar o governo”, explica Veríssimo.

Segundo ele, apesar de a medição do Inpe ter “saído melhor do que se esperava”, é preciso cautela, já que os meses seguintes ao período analisado pela estimativa do governo apresentaram alta de 226% no desflorestamento em relação ao mesmo período de 2013, de acordo com estimativas do Imazon. “Essa subida é preocupante, mas ainda é cedo para cravar que o desmatamento do ano seguinte será alto”, explica.

Otimistas, mas cautelosos – Para o engenheiro florestal Marco A. W. Lentini, coordenador do Programa Amazônia da organização ambiental WWF-Brasil, os dados que apontam para a queda do desmatamento são uma boa notícia, mas isso não significa que o problema está perto de ser resolvido. “Temos que ser otimistas, mas isso não é sinal de que as taxas vão cair em definitivo. Temos que continuar acompanhando a evolução do Prodes.”

Ele acrescenta que os dados foram recebidos com surpresa entre os ambientalistas: “Todas as outras fontes mostravam aumento, então também esperava isso do Prodes”. Lentini observa que a diferença de metodologias do Prodes e de outros monitoramentos divulgados anteriormente impede qualquer tipo de comparação entre os dados. Para ele, ter formas independentes de monitoramento, como aquela feita pelo Imazon, é importante para a sociedade civil.

Ele acrescenta que, enquanto a questão do monitoramento avançou muito no país, outras frentes de enfrentamento do desmate ainda são muito incipientes. Ele cita a falta estímulo a atividades produtivas sustentáveis nas florestas e também a demora da implementação do Cadastro Ambiental Rural (CAR), registro que vai integrar informações das propriedades rurais e servir como base para monitorar e controlar o desmatamento. (Fonte: G1)