Índios brasileiros do povo Ashaninka vieram até Lima, sede da Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas, a COP 20, atender ao “pedido de socorro” de membros da etnia que vivem no Peru.
Os vizinhos de fronteira querem pressionar a presidência peruana a agilizar a investigação do assassinato de quatro indígenas, mortos em setembro na área de fronteira, e pedir a titulação definitiva da área onde está a aldeia, na região de Uacayali. A titulação determina a expulsão de qualquer ocupante não-índio e os nativos passariam a cuidar da terra, preservando-a.
Com os rostos pintados e usando o amatherentsi, chapéu feito com uma palha de palmeira e enfeitado com penas de arara, os ashaninkas brasileiros Isaac Piyãco e Francisco Piyãco pareciam guerreiros protegendo as duas viúvas, com recém-nascidos no colo (um deles nascido há menos de um mês), e a filha de um dos mortos.
“Queremos mostrar que somos uma só família e que tanto no Brasil, quanto no Peru, sofremos o impacto do assassinato. Nós, que somos defensores da floresta, estamos correndo risco pela falta de presença do Estado, já que estamos em uma área de difícil acesso”, disse Francisco Piyãco.
Atualmente, existem cerca de 60 mil ashaninkas na Amazônia peruana e cerca de mil distribuídos pela floresta no Brasil.
Mortes estão sob investigação – Quatro lideranças indígenas da Comunidade Nativa Alto Tamaya – Saweto foram assassinadas em uma emboscada quando andavam pela floresta amazônica em direção à aldeia Apiwtxa, na Terra Indígena Ashaninka do Rio Amônia, em Marechal Thaumaturgo (AC), a 559 km de Rio Branco. Um dia de caminhada pela mata separa as duas aldeias.
Edwin Chota Valera, Leôncio Quinticima Melendez, Jorge Rios Perez e Francisco Pinedo, participariam de uma reunião com lideranças do lado brasileiro sobre estratégias de vigilância e fiscalização, no intuito de impedir a ação do narcotráfico do desmatamento ilegal.
Após o crime, a Fundação Nacional do Índio, a Funai, a Polícia Federal e o Ministério da Justiça encaminharam servidores para auxiliar autoridades do Peru na investigação dos crimes. Ao menos uma pessoa foi presa acusada de envolvimento na ação.
Migração de ashaninkas – Segundo Francisco Piyãco, a ação de criminosos na Amazônia peruana tem forçado uma migração de ashaninkas para o lado brasileiro da etnia. “Esse movimento acontece porque há uma certa tranquilidade do lado de cá”, disse ele.
A Funai confirma o aumento na vinda de indígenas ashaninka do Peru para duas das quatro terras indígenas da etnia no Brasil, ambas em Marechal Thaumaturgo. Segundo a fundação, não se trata de migrações definitivas, mas estratégias de segurança criada pelos nativos para proteger membros de aldeias.
David Salisbury, do Departamento de geografia e meio ambiente da Universidade de Richmond, nos Estados Unidos, afirma que o governo peruano havia prometido a titulação das terras da Comunidade Nativa Alto Tamaya – Saweto, o que ainda não aconteceu. O território indígena foi reconhecido pelo governo em 2003. Desde então os indígenas esperam pelo título, que “permite a eles dizer que a terra é nossa e ninguém pode entrar”, explica o americano.
Ele ressalta ainda que é preciso mais segurança para os povos indígenas. “As mortes não são casos isolados na Amazônia. É hora de Peru e Brasil pensarem juntos para proteger essa área”, afirmou David ao G1.
De acordo com a Funai, nos últimos três anos houve a instalação de uma Coordenação Regional em Cruzeiro do Sul, também no Acre, além de postos técnicos em três diferentes pontos da floresta. Essa infraestrutura permite acompanhamento e auxílio a políticas públicas de saúde, educação, além de apoio a projetos desenvolvidos pelos próprios indígenas, com financiamento do Estado. (Fonte: G1)