Quase cinco anos após a implementação de unidade modelo de dessalinização da água, a comunidade rural de Minuim, no sertão baiano, venceu parte dos desafios. O acesso à água potável diminuiu a diarreia entre crianças e também permitiu que elas se dedicassem mais aos estudos. No entanto, de acordo com a própria comunidade, falta maior conscientização para que a população aproveite melhor os recursos disponíveis.
Minuim abriga 1.250 habitantes, 250 famílias que vivem basicamente da agricultura e pecuária sustentáveis, além de serviços prestados na cidade próxima, Santa Brígida, município do qual a comunidade faz parte. O artesanato, com os pássaros de madeira, também é famoso. Trata-se de uma região de seca e pobre. A vazão da água no município é, no entanto, um privilégio: a captação chega a 13,5 mil litros por hora, enquanto na maior parte da região do Semiárido chega a 1 mil litros por hora.
A água retirada do subsolo apresenta, entretanto, alto teor salino, o que a torna imprópria para o consumo humano. Em 2010, foi implementada a Unidade Demonstrativa de Minuim, que, além de retirar o sal da água e oferecer água potável à população, utiliza o resíduo, água salgada, para a criação de tilápia e plantação de erva-sal, que por sua vez é usada na alimentação de animais.
“Melhorou 50%. Antigamente a coisa era bem pior. A gente tinha que cavar a água, era de cacimba [buraco que se cava até encontrar água], cavava na areia e tirava para beber. Hoje não dependo nem de carro-pipa. Sempre pego água daqui [do dessalinizador] e o resto, da bica em casa. E dá para ir passando”, diz Edivaldo dos Santos, 63 anos, morador do povoado. Ele utiliza a erva-sal como complemento à alimentação do gado. Segundo ele, os carrapatos foram eliminados. “Mas aqui o pessoal ainda não conhece essa planta. É muito boa, mas os produtores não têm muito conhecimento”, lamenta.
A unidade produtiva é administrada pela Associação Comunitária do Povoado de Santa Brígida, que, para manter o sistema, cobra R$ 0,01 por litro de água, o que garante o pagamento de R$ 390 mensais em energia, além da manutenção. “Antes era aquela disputa para cavar uma cacimba no riacho, tinha que chegar às 3h da manhã para entrar na fila. Quando não havia água, eram 2, 3 quilômetros de viagem, duas vezes por dia, ninguém aguentava mais”, recorda a presidenta da associação, Íris do Céu Feitosa.
A escola é uma grande beneficiada. Em troca do uso do espaço para capacitação da comunidade para gestão do sistema, recebe diariamente e gratuitamente 20 galões de água. O diretor do Centro Educacional Antonio da Silva Feitosa, que atende a crianças até o 9º ano, lembra que, sem a água potável, os alunos deixavam de ir às aulas por causa de diarreia. “A água chegou em um momento certo para a gente. Recebíamos água do caminhão-pipa. Um terço dos alunos da escola ficava com dor de barriga”, diz.
Mas nem todos aproveitam o sistema. Apesar da disponibilidade e do baixo custo, muitos moradores ainda preferem ser abastecidos pelos carros e caminhões-pipa. Seja pelo trabalho diário de ir buscar água, uma vez que não há vazão suficiente para oferecer a água dessalinizada encanada, seja por falta de confiança quanto à qualidade.
Fabiana da Conceição Nascimento, de 30 anos, reconhece a importância do dessalinizador e muitas vezes abastece a casa com a água do local. Por morar longe e trabalhar em Santa Brígida, ela acaba usando para o consumo a água do carro-pipa e a água da cisterna da vizinha, que vem diretamente do rio. Ela admite que não filtra nem ferve a água antes de consumir. “Eu sou a única que pega água lá para casa, chego cansada, e é mais fácil pegar da vizinha”, diz.
A água do sistema de dessalinização serve prioritariamente para o consumo humano e oferece qualidade e segurança para isso, segundo o Ministério do Meio Ambiente. A água das cisternas e do caminhão-pipa deve ser complementar, sendo usada em outras atividades, como lavar a roup. Se tratada, pode ser de consumida. A maioria, porém, consome a água sem tratamento.
A questão é confirmada pela enfermeira Joyce Pereira de Souza, que há seis anos trabalha em Minuim. De acordo com ela, as verminoses e diarreia são as principais enfermidades da comunidade e vêm da água. “A estiagem por aqui é problema sério. Quando cai alguma chuvinha, as pessoas já querem armazenar em qualquer ambiente. Não querem desperdiçar nenhuma gotinha. E não tratam a água antes de consumir”, diz.
A desconfiança é outro motivo para não usar a água. “As pessoas ainda estão muito controladas por ter o pipa [caminhão-pipa], ainda estão no domínio do pipa. Confiam mais na água do pipa. Um dia a gente chega lá”, diz Íris, que assumiu recentemente a presidência da associação e comprometeu-se a melhorar a gestão. Segundo ela, os recursos ali disponíveis podem ser melhor aproveitados por toda a comunidade.
A unidade faz parte do projeto Água Doce, desenvolvido pelo governo federal em parceria com os estados e entidades. A meta é atender, com sistemas de dessalinização da água, a 500 mil pessoas em todo o Semiárido até final de 2016. Os dessalinizadores serão instalados em poços já perfurados. (Fonte: Agência Brasil)