O compromisso assumido pelos processadores de carne do Brasil de só comprar gado de fazendas que pararam de desmatar a floresta amazônica no Pará levou a uma queda acentuada na derrubada de árvores, disseram pesquisadores.
Historicamente, a expansão do pasto para o gado acelerou o desmatamento na Amazônia brasileira, onde os rebanhos ocupam cerca de dois terços das terras devastadas.
Um estudo realizado por cientistas da Universidade de Wisconsin-Madison revelou que, antes dos acordos feitos em 2009, quase quatro dos dez fornecedores diretos da JBS, a maior empresa do setor no mundo, eram responsáveis pelo desmatamento recente. Até 2013 esse número havia caído para quatro em cem.
“O agronegócio pode levar a grandes mudanças nos locais em questão”, disse Holly Gibbs, professora de geografia e estudos ambientais da Universidade de Wisconsin-Madison e coautora do estudo publicado nesta terça-feira (12) no periódico “Conservation Letters”.
Em outra pesquisa do início deste ano, Holly e sua equipe descobriram que, depois que grandes empresas assinaram um pacto em 2006 para não comprar soja plantada em terras desmatadas na Amazônia brasileira, só cerca de 1% da expansão no plantio da soja ocorreu às custas da floresta – antes a cifra era de 30%.
“Os frigoríficos e os comerciantes de soja estão na linha de frente do desmatamento, por isso acompanham os produtores – agricultores e pecuaristas – diariamente, e podem bloquear imediatamente o acesso ao mercado”, explicou Holly.
Acordo mais funcional – O compromisso chamado “Carne Legal”, assumido em 2009 pela indústria de carne bovina do Brasil – que detém o maior rebanho comercial do mundo, produziu resultados em questão de meses, muito mais rápido que políticas nacionais como o Código Florestal, acrescentou Holly.
Depois que os acordos foram fechados, os abatedouros passaram a boicotar o gado de alguns pecuaristas onde se praticava o desmatamento, contribuindo com a queda rápida no número de fornecedores atuando em terras desmatadas.
O pacto com os abatedouros, resultado da pressão de grupos ambientalistas e da Procuradoria-Geral do Pará, estipulou também que os pecuaristas precisam registrar suas propriedades no Cadastro Ambiental Rural.
Antes dos acordos, só 2% dos fornecedores da JBS o haviam feito, mas cinco meses mais tarde quase 60% já haviam registrado suas propriedades, e até 2013 a cifra já era de 96%, segundo o estudo. Entre os 56 pecuaristas pesquisados, 85% disseram tê-lo feito para poder vender à JBS.
Nos últimos 18 meses, aproximadamente, muitas multinacionais anunciaram que não irão mais obter commodities como azeite de dendê e soja de fornecedores que derrubam florestas.
Os resultados do estudo dão a entender que isso pode ter um grande impacto, mas a pesquisa teve uma abrangência limitada, cobrindo só 30% do gado abatido no Pará. (Fonte: G1)