Vários apitos soaram no sábado (6) vindos de caiaques e canoas nas águas da enseada de Botafogo, zona sul do Rio. O motivo do alerta é a poluição da Baía de Guanabara, que será utilizada como local das provas de vela nos Jogos Olímpicos de 2016.
Para um dos organizadores do protesto, o biólogo Mario Moscatelli, permitir que competições das Olimpíadas ocorram no local é uma temeridade. “No pré-olímpico do ano passado colocaram os atletas dentro daquela latrina. Neste ano, corremos o risco novamente de expor os atletas a uma hepatite ou uma gastroenterite”, comentou.
O problema, segundo ele, que se arrasta há décadas, não é fruto de falta de dinheiro, mas de má gestão. “Faltando um ano e pouco para as Olimpíadas, [tem] cocô por todo o lado. Com uma gestão e fiscalização eficientes, em 20 anos isso aqui fica limpo”, declarou ao ressaltar que o trabalho deve envolver políticas de estado de habitação, transporte e saneamento. “Você vê crescimento desordenado acontecendo em todos os municípios, seja de pobres ou ricos, o crescimento desordenado despeja o esgoto dentro dos rios, que vai parar dentro da Baía. O meio ambiente está pagando pela ausência de políticas públicas”.
Um dos compromissos assumidos com o Comitê Olímpico Internacional para sediar as Olimpíadas era a meta de despoluir 80% da Baía de Guanabara. Em julho do ano passado, o governo do estado anunciou novo plano de despoluição da baía. No mesmo mês, o governo admitiu que a porcentagem não seria alcançada e que despoluição deveria levar pelo menos 15 anos. O esgoto doméstico é a principal fonte de poluição da baía, que tem 50 afluentes.
O apitaço organizado no sábado contou com o apoio de representantes da Ordem dos Advogados do Brasil que solicitaram ao Ministério Público Federal (MPF) um Termo de Ajuste de Conduta (TAC) com o governo do estado, por meio da Secretaria de Estado de Ambiente. Eles também vão encaminhar documento técnico e fotográfico à secretaria e ao MPF relatando as condições da baía. O TAC estabelece metas, cronograma físico-financeiro, parâmetros de sucesso ambiental e econômico, entre outros pontos.
Moradora do bairro de Botafogo, a bióloga Maria Antonia Malajovich soube do evento pelas redes sociais. “Acompanho a degradação da Baía de Guanabara há vários anos e me parece fundamental estar aqui para protestar contra o descaso das autoridades com o meio ambiente. Fala-se muito, mas faz-se muito pouco”, disse ela que lamentou nunca ter podido tomar banho de praia no bairro que escolheu para viver.
Procurada pela reportagem, a Secretaria Estadual de Ambiente informou que o local onde ocorrerão as competições náuticas das olimpíadas na Baía de Guanabara seguem padrões internacionais, inclusive de balneabilidade. (Fonte: Agência Brasil)