Os novos resultados científicos da exploração inédita do cometa 67P/Churymov-Guerasimenko revelam estruturas e características inesperadas, entre elas a presença de quatro moléculas orgânicas, fundamentais para a vida, nunca antes observadas nestes pequenos corpos celestes.
Estas são as principais conclusões tiradas dos dados e análises efetuados pelos instrumentos do robô Philae, que pela primeira vez na história conseguiu coletar dados diretamente do núcleo de um cometa.
“Descobrimos quase tudo o que ignorávamos antes sobre o núcleo de um cometa”, explicou Jean-Pierre Bibring, professor da Universidade Paris-Sud, responsável científico do Philae.
“E nada do que vemos corresponde realmente ao que podíamos imaginar sobre um cometa, da estrutura global e em pequena escala, às propriedades físicas e sua composição”, esclareceu o professor, em entrevista à AFP.
Segundo ele, este “caldo” de informações vai ajudar a aumentar a compreensão dos cometas, testemunhas da gênese do sistema solar há 4,6 bilhões de anos.
Os estudos foram publicados nesta quinta-feira (30) na revista norte-americana “Science”.
“Estamos convencidos de que Philae nos fará avançar consideravelmente sobre a origem da vida” em nosso planeta e também sobre o fato de saber se ela é frequente ou não no Universo, avaliou o professor Bibring.
As quatro moléculas detectadas sobre o cometa entram numa cadeia de evolução química que pode levar à formação de elementos fundamentais para a vida, explicou o cientista.
A descoberta foi feita pouco depois da movimentada chegada de Philae em 12 de novembro de 2014 – após sua separação da sonda Rosetta – por um de seus dez instrumentos.
Ao todo, puderam ser identificados 16 compostos que puderam se repartir em seis classes de moléculas orgânicas – dentre eles álcoois e aminas. Entre estas moléculas, quatro nunca antes encontradas até hoje num cometa, são, por exemplo, o metil e a acetona – precursores das moléculas fundamentais para a vida, como os açúcares e os aminoácidos.
Mas a presença destes últimos compostos mais complexos não pode ser identificada com esta primeira análise, informaram os pesquisadores.
Estas observações dão um panorama dos processos químicos que se produzem no núcleo de um cometa e mesmo na nuvem de poeira que, ao afundar, deu origem ao sistema solar há 4,6 bilhões de anos, segundo os astrônomos.
Origem da vida – Na medida em que os cometas não sofreram mudanças desde a emergência do sistema solar, é possível deduzir destas observações que estes compostos orgânicos cometários já estavam aglomerados na forma de grãos de diversos milímetros, como no cometa “Churi”.
Acreditava-se até então que apenas pequenas moléculas orgânicas pairavam no gelo dos núcleos cometários.
São estes grãos que, ao chegarem aos oceanos da Terra e talvez de outros planetas e luas do sistema solar, teriam favorecido o surgimento da vida, estimam os autores destes trabalhos.
A trajetória de Philae e os dados registrados por seus instrumentos no momento do contato com o cometa 67P/Churymov-Guerasimenko, ou simplesmente Churi, mostram uma superfície granulada ou dura, de acordo com os locais.
O interior parece mais homogêneo do que o previsto, segundo um radar à bordo do robô que conseguiu penetrar o núcleo de cinco quilômetros de diâmetro. Estas observações confirmam também uma forte porosidade estimada em 75 a 85%.
As fotos e medidas puderam determinar a posição de Philae, que repousa num vale, deitado de lado com apenas dois de seus três pés em contato com o solo.
O módulo está cercado de paredes que complicam sua alimentação de energia solar e suas comunicações com Rosetta.
Após sua chegada em 12 de novembro, ela conseguiu funcionar durante 60 horas antes de adormecer, culpa de uma exposição ao sol insuficiente para recarregar suas baterias solares. Ela acordou apenas em 13 de junho, após sete meses de hibernação, enquanto o cometa se aproximava do sol.
Desde então, o robô tem dificuldades em estabelecer uma comunicação suficiente com Rosetta, que está distante 200 quilômetros para evitar os jatos de gás e de poeira.
Durante seu oitavo e último contato em 9 de julho, Philae se comunicou por mais tempo e conseguiu transmitir dados. Mas a qualidade da comunicação não permitiu aos cientistas transmitir os comandos ao robô para fazer com que os instrumentos funcionassem.
“Philae não morreu, mas continua em sobrevida de maneira muito eficiente”, insistiu nesta quinta-feira o professor Bibring. (Fonte: G1)