A ex-senadora e fundadora da Rede Sustentabilidade, Marina Silva, criticou nesta terça-feira (29) a meta anunciada pela presidente Dilma Rousseff na ONU de zerar o desmatamento ilegal no Brasil até 2030. Para Marina, não se pode anunciar uma “tolerância de 15 anos com aquilo que a lei não permite”.
Na Cúpula da ONU sobre Desenvolvimento Sustentável no fim de semana, Dilma anunciou metas do Brasil para o meio-ambiente. Entre elas, está o desmatamento zero até 2030, além da meta de reduzir em 37% emissão de gases do efeito estufa até 2025, e em 43% até 2030.
“Eu não posso dizer que só em 2030 é que nós vamos acabar com o desmatamento ilegal”, afirmou Marina . “Porque se eu digo assim, é como se eu estivesse admitindo 15 anos de desmatamento ilegal […] Nós conseguimos controlar todas as variáveis que evitam o problema da ilegalidade? Claro que não, não depende da nossa vontade. Mas eu não posso anunciar a priori que eu vou ter ainda uma tolerância de quinze anos com aquilo que a lei não permite”, completou.
Marina participou de uma palestra em uma faculdade de Brasília sobre “Os desafios do Desenvolvimento Sustentável”. Após um discurso, ela respondeu perguntas da plateia.
A ex-senadora fez uma analogia com o crime de homicídio e disse que o país não pode ter desmatamento ilegal “desde já”.
“Eu não posso dizer que a partir de 2030 é que eu vou combater os assassinatos, porque senão eu estou admitindo que eu estou deixando aqui uma faixa em que você pode assassinar pessoas, mas vão nascer outras para repor. Eu estou aqui exagerando na metáfora obviamente. Mas é um erro gravíssimo fazer o anuncio dessa forma. Desmatamento ilegal não podemos ter a partir de já, do mesmo jeito que assassinar pessoas nós não podemos ter em hipótese alguma”, disse a ex-senadora.
Ainda no comentário sobre as metas anunciadas por Dilma, Marina disse que “o Brasil pode fazer muito mais do que aquilo que se comprometeu”.
Procurado pelo G1, o Palácio do Planalto informou que não iria comentar as declarações de Marina Silva.
Corrupção – Na palestra, Marina também falou da importância da mobilização no combate à corrupção, ressaltando que esse problema não é exclusividade de um ou outro governante. “A primeira coisa para se resolver o problema da corrupção é não se achar que é um problema da Dilma, do Fernando Henrique, do Collor ou do Sarney”, afirmou.
Segundo a ex-senadora, a corrupção só deixará de existir quando for encarada como uma questão de todos. “Se a escravidão fosse um problema dos donos dos escravos, ainda teríamos escravidão”, exemplificou.
Rede Sustentabilidade – Questionada sobre em quais municípios a Rede pretende disputar a prefeitura no ano que vem e quais poderiam ser os candidatos Marina não citou nomes. Na semana passada, o Tribunal Superior Eleitoral aprovou registro da Rede Sustentabilidade, que já poderá concorrer às eleições de 2016.
“Onde for possível termos candidaturas que vão lá para apresentar um programa, as propostas, um projeto de município, nós teremos. Onde isso não for possível e tiver uma candidatura de outros partidos que sejam compatíveis com as propostas e as posturas [da Rede], nós poderemos apoiar essas propostas”, afirmou Marina.
Nesta semana, chegou a cinco o número de parlamentares que eram de outros partidos e migraram para a sigla: Alessandro Molon (ex-PT-RJ), Miro Teixeira (ex-PROS-RJ), Aliel Machado (ex-PCdoB-PR) e João Derly (PCdoB-RS).
“Essas pessoas, quando dialogaram conosco, elas não vieram colocando que elas estavam vindo para rede para uma candidatura”, conclui Marina. (Fonte: G1)