Voluntária faz campanha para salvar filhote de leão que viu crescer em projeto e viraria caça

A canadense Alexandra Lamontagne viajou para a África do Sul para trabalhar como voluntária cuidando de macacos. Mas, ao chegar, se deparou com cinco filhotes de leão – e esta não foi a única surpresa.
A viagem acabou com uma luta para resgatar uma leoa que fora enviada a um local de caça em cativeiro e um documentário contando toda a história.

“Quando cheguei, vi cinco filhotes de leão e comecei a fazer perguntas, porque não era isso que eu estava esperando. Mas me apaixonei por um dos filhotes, por isso fiquei lá”, conta ela, que viajou em 2013.

Segundo a voluntária, os responsáveis pelo local diziam que os leõezinhos haviam sido encontrados em uma clínica veterinária, mas ela achava que a história não fazia sentido.

Uma hora, afirma, mandaram que ela parasse de fazer perguntas. “Mas eu não conseguia deixar, me afeiçoei muito. É muito trabalho, tem que dar leite a cada duas horas, de dia e de noite. Eu até dormia com eles”, conta.”Foi uma experiência que não vou esquecer.”

Uma leoa, em especial, conquistou Alexandra. Serabie era cerca de dois meses mais nova que os outros filhotes, o que significa que era bem menor e não gostava de brincar com os outros. Por isso, ficava mais no colo de Alexandra.

Ao voltar para o Canadá, porém, Alexandra recebeu um e-mail com más notícias. Os responsáveis pelo local contaram que os animais não seriam enviados para um zoológico, como ela acreditava, mas para um local de caça em cativeiro, prática conhecida como “canned hunting”. Nestes locais, animais criados em cativeiros são soltos em um ambiente grande, mas cercado.

O animal é solto cerca de 48 horas antes de ser caçado.

“É uma prática legal, mas o animal, principalmente o leão, está tão acostumado a humanos que ele vai ficar perto de você, vai até te procurar, mesmo se for um local enorme. Você o alimentou, criou, ele não vai ter medo, vai se aproximar. É um alvo fácil”, diz Alexandra.

A voluntária refuta o argumento, comum na África do Sul, de que esse tipo de fazenda impede a caça de animais selvagens.

“Não muda nada para os leões selvagens, porque ainda estamos tirando seu espaço e as pessoas estão caçando-os mesmo assim.”

Alexandra diz que desconhecia esta prática e que entrou em um dilema. Queria comprar Serabie para salvá-la, mas pensava que, se o fizesse, estaria dando dinheiro para essas pessoas, assim como fazem os caçadores.

A solução veio com um projeto de um documentário: ela pagaria para comprar Serabie, mas chamaria atenção para o problema.

Pela internet, em um projeto de crowdfunding, conseguiu arrecadar US$ 10 mil (cerca de R$ 40 mil) para comprar a leoa. A princípio, conta, o local que estava com a leoa não quis nem conversar com ela, mas Alexandra acabou convencendo-os a vender o animal.

O resgate, diz ela, foi um misto de lágrimas de alegria e de tristeza.

“Você pensa nos outros que ficaram para trás, é difícil pensar que você salvou um, mas que todos os outros estão aguardando para serem salvos, mas nunca serão.”

Serabie, agora, vive em um santuário de leões.

Alexandre diz que a leoa, que já era adulta quando foi resgatada, foi dopada para a viagem e que, ao acordar, estava de mau humor. Mas ela acha que, depois, a leoa a reconheceu. “Pude me aproximar, achar que ela reconheceu o cheiro”, afirma.

Além de salvar a leoa, Alexandra também teve sucesso com o documentário: Saving Serabie foi visto por mais de 15 mil pessoas e ganhou um prêmio em um festival de conservação de vida selvagem.

“Essa era o objetivo principal, criar consciência. Se você vir um leão empalhado na parede você sabe que o caçador não ficou três dias esperando para caçá-lo, mas foi para uma fazenda toda cercada em que o animal não tinha chance de sobreviver.”

Outro lado – O local em que Alexandra trabalhou como voluntária, Bambelela Wildlife Care & Vervet Monkey Rehabilitation, disse que os animais foram deixados pelo dono em uma clínica veterinária enquanto ele viajava. A clínica, segundo o local, pediu que o Bambelela cuidasse dos animais por cerca de quatro semanas, até que o dono retornasse de viagem, o que eles fizeram.

Segundo o Bambelela, quando o dono retornasse os animais seriam enviados para um zoológico.
Após os leões serem devolvidos, porém, teriam surgido denúncias de que o local era de caça em cativeiro.
O Bambelela afirma que, até hoje, isso não foi provado.

Diz também que o animal que Alexandra pegou acreditando ser Serabie na verdade era outro – a voluntária nega, dizendo que levou uma especialista ao local para reconhecer a leoa. (Fonte: G1)