O aquecimento global vai ampliar a ocorrência de eventos climáticos extremos na Amazônia, causando mais secas no leste e mais inundações no oeste. Essa é a conclusão de um estudo que avaliou as projeções de 35 simulações de computador para o clima da região.
O trabalho, liderado por Philip Duffy, do Centro de Pesquisas de Woods Hole, em Massachusetts (EUA) e com participação do brasileiro Paulo Brando, do Ipam (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia), mapeia os mais prováveis impactos da mudança climática para a região diante de um cenário relativamente pessimista, no qual a emissão de CO2 continua crescendo desenfreadamente.
“Os modelos sugerem que as áreas afetadas por secas meteorológicas moderadas e severas vão quase dobrar e triplicar, respectivamente, até 2100”, escrevem os pesquisadores no artigo. “Extremos de umidade também estão projetados para aumentar depois de 2040.”
Segundo Brando, a motivação para o estudo é que as projeções para o que vai acontecer com o clima médio na Amazônia já estão bem consolidadas, mas são os eventos extremos que mais impactam o ambiente e as pessoas na região.
O resultado da pesquisa está descrito em estudo na edição desta terça-feira (13) da revista PNAS, da Academia Nacional de Ciências dos EUA. As secas recentes de 2005 e 2010, dizem os cientistas, são “análogas das condições projetadas para o futuro”.
“O que estamos vendo nas projeções é mais seca, mais chuva e estações secas mais longa”, afirma Brando. “Falar em secas e períodos de extremo chuvoso é diferente de falar em mudança média no clima, à qual gente consegue se adaptar muito melhor. São os extremos que causam os grandes impactos.”
Desequilíbrio oceânico – Ainda não está muito claro por que os modelos produziram comportamentos contrastantes para diferentes áreas da Amazônia, mas cientistas acreditam que isso seja resultado de diferenças entre os aquecimentos que Atlântico e o Pacífico sofrerão.
“Temperaturas de superfície do mar abaixo da média no Pacífico tendem a desencadear períodos de umidade extrema na Amazônia Ocidental”, escrevem os pesquisadores, sobre as projeções de chuvas torrenciais naquela região.
As secas, afirmam, provavelmente estão ligadas a dois diferentes fenômenos. O primeiro é conhecido pela sigla ENSO (Oscilação do Sul do El-Ninõ), que alterna os períodos de superaquecimento e resfriamento das águas do pacífico. O segundo é a AMO (Oscilação Multidecadal Atlântica), uma variação nas médias de temperatura do Atlântico com ciclos de uma ou mais décadas.
“Uma coisa que acontece, por exemplo, é que a diferença de pressão entre Atlântico e a Amazônia diminui, e teria menos umidade indo do Atlântico Norte para a floresta”, explica Brando. “Foi mais ou menos esse fenômeno que causou a seca de 2010, e um pouco também a de 2005.”
As consequências do aquecimento global previstas pelos modelos não levaram muito em conta ainda possíveis efeitos do desmatamento, diz Brando. O corte de floresta reduz a evapotranspiração, umidade bombeada para o ar por árvores e seres vivos. Uma redução na cobertura de árvores poderia intensificar ainda mais as secas, dizem os cientistas. (Fonte: G1)