Um cientista nascido em Carmo do Cajuru, no Centro-Oeste de Minas, é a mente por trás do projeto de um robô que deverá ser usado para consertar satélites em órbita. A criação é um tipo de rebocador espacial. Especialista em mecânica de voo, Ijar Fonseca, de 66 anos, começou o trabalho em 2014 e a previsão é de que o equipamento fique pronto em 2017. O resultado pode representar um avanço no desenvolvimento do programa espacial brasileiro.
Fonseca é professor no Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA) em São José dos Campos (SP) e gerencia o projeto. De acordo com ele, o objetivo é testar novos algoritmos de controle em operações de encontro e ancoragem entre espaçonaves. “Essas operações no espaço são delicadas. Mesmo com uma mínima falha é possível perder a missão inteira”, ressaltou.
O Brasil ainda não domina o espaço a ponto de usar tecnologias de acoplamento. Por isso a equipe de astronáutica do ITA pretende lançar um satélite em dezembro, para testes. “Mas não há garantia de continuidade, uma vez que o país está mergulhado em uma crise econômica”, disse Ijar.
Estados Unidos, Japão, Rússia e Alemanha já lançaram equipamentos parecidos com o desenvolvido no Brasil.
O objetivo da equipe nacional, de acordo com Ijar, não é chamar atenção de outros países, mas abrir a possibilidade de explorar outros aspectos a partir do domínio das técnicas de encontro e acoplamento de espaçonaves. Metade do projeto já foi executada e o restante segue em fase de execução.
O grupo pretende fazer experimentos com dois robôs flutuantes. A plataforma que permitirá realizar esse experimento simula o ambiente espacial. Ela já foi encomendada, mas ainda não foi entregue. Porém, os cientistas brasileiros já obtiveram bons resultados quando testaram suas teorias em uma plataforma feita de gelo.
Investimento – A equipe responsável pelo projeto, composta por cinco doutores pesquisadores, conseguiu um suporte financeiro de R$ 157 mil da Agência Espacial Brasileira para contratação de serviços e aquisição de hardwares.
Para participar de eventos científicos e internacionais no Canadá, na França e em Israel, a equipe conseguiu subsídio do “Uniespaço”, programa criado pela Agência Espacial Brasileira (AEB) em 1997 com objetivo de formar base de pesquisa e desenvolvimento. Cada viagem custa cerca de R$ 15 mil.
O pesquisador – Ijar Fonseca tem ampla experiência no ramo aeroespacial. Enquanto fazia doutorado nos Estados Unidos, trabalhou em um projeto financiado pela Nasa, a agência espacial americana.
Hoje é um dois oito brasileiros integrantes da Academia Internacional de Astronáutica e vice-presidente internacional do Comitê de Estruturas e Material da Federação Internacional de Astronáutica.
O nome dele está gravado na memória do jipe-robô Curiosity, que pousou em Marte em 2012. “Eu estava bisbilhotando o site da Nasa quando vi uma mensagem que dizia que estavam abertas inscrições para ter o nome gravado no banco de dados da sonda. Eu me inscrevi e fui selecionado. Posso dizer que estou em Marte neste instante”, comentou.
Em 2011 ele conseguiu outra façanha. Um certificado entregue a ele pela Nasa confirma que a imagem do rosto dele voou no espaço a bordo do ônibus espacial Endeavour, na missão STS-134. “A imagem foi levada a uma altitude de 220 milhas acima da Terra. Voou a uma velocidade de mais de 17.400 milhas por hora enquanto orbitava nosso planeta. Em nome da Nasa, obrigado por compartilhar a emoção de nossa missão e acolher o seu interesse na exploração espacial. Nós ficamos contentes de tê-lo a bordo”, informa o documento.
Ijar afirma que deixou o interior de Minas ainda muito jovem em busca do sonho de lidar com algo que o aproximasse das estrelas. “Por isso gosto de dizer aos jovens, em um trocadilho astronáutico, que o sonho é um propulsor que nos leva a descobertas incríveis”, finalizou. (Fonte: G1)