O principal sistema de abastecimento de São Paulo, o Cantareira saiu nesta quarta-feira (30) do volume morto depois de 17 meses. Mas os especialistas advertem: a situação do abastecimento de água ainda exige muito cuidado.
Foi um ano e cinco meses operando no vermelho. Exatamente em 14 de julho do ano passado, o Cantareira passou a usar os 182 bilhões de litros da primeira cota do volume morto.
A situação piorou e, em dezembro de 2014, foi necessário começar a retirar mais 105 bilhões de litros, referentes à segunda cota da reserva técnica. O volume morto é a água que fica abaixo das comportas do reservatório e precisa ser captada por bombas.
Agora, o Cantareira saiu do vermelho. Mas o geólogo e professor da USP Pedro Luiz Côrtes projeta um cenário nada animador.
“A gente precisaria, por exemplo, entrar no período de estiagem, que é em abril, com pelo menos 35% de água no positivo. E esse ano a gente não deve chegar a esse volume. Então, é muito provável que em 2016 a gente volte a entrar no volume morto novamente”, prevê.
O Secretário de Recursos Hídricos de São Paulo, Benedito Braga, concorda que a crise não acabou.
“Ainda não dá para nós dizermos com segurança absoluta que estamos fora dessa crise. Por isso que é importante a população continuar engajada nesse processo de uso eficiente, de uso racional da água”, explica o secretário.
O governo do estado tem feito obras para manter o abastecimento de água na Grande São Paulo. Em setembro, inaugurou a interligação entre os sistemas Rio Grande e Alto Tietê.
Uma outra interligação, entre a represa de Jaguari, no Vale do Paraíba, e a represa de Atibainha, vai mandar mais água para o Cantareira. A operação deve começar em 2017. E um novo sistema produtor, o São Lourenço, deve ficar pronto também em 2017.
Mas só buscar mais água no interior, não é solução de longo prazo. O que há de moderno hoje no mundo é tratar o esgoto e reusar a água reciclada. A água que chega na cidade vem de longe, é muito cara e tem de ficar na cidade e não ser jogada de volta aos rios na forma de esgoto. Não é racional. Mas existe uma única estação de grande porte de produção de água de reuso a partir de esgoto no Brasil.
A água que sai na ponta final é límpida. Hoje ela é usada para fins industriais, mas a estação poderia abastecer uma cidade de 300 mil habitantes.
O especialista diz o que é preciso ser feito para superar de vez a crise.
“Reduzir as perdas, procurar novos mananciais, e por outro lado, promover o uso inteligente da água, a gestão da demanda. Reuso, recuperar os rios, tratar o esgoto pra utilizar essa água pra fins menos nobres, utilizar água de forma mais eficiente, na indústria, na agricultura. Essa é chave do sucesso”, afirma Samuel Barreto, coordenador do Movimento Água para São Paulo. (Fonte: G1)