A Agência Nacional de Águas (ANA) e o Departamento de Águas e Energia Elétrica de São Paulo (DAEE) autorizaram a Sabesp a captar mais água do Sistema Cantareira para a Região Metropolitana de São Paulo no mês de janeiro. O limite de captação subiu de 13,5 m³/s para 19,5 m³/s, ou seja, 44,4%. A vazão máxima do reservatório, no entanto, ficou abaixo do que a companhia da abastecimento havia pedido aos órgãos reguladores.
O sistema tem capacidade para armazenar 1.269 bilhões de litros (considerando o volume morto) e opera com 40,1% nesta segunda-feira (18). Após meses de dependência da reserva técnica, o manancial saiu sair do volume morto no fim de 2015 e usa, desde então, o volume útil para abastecimento da população. Especialistas ouvidos pelo G1, no entanto, alertam que o Cantareira ainda segue em crise porque não se recuperou totalmente da crise hídrica.
A média de captação em janeiro do Cantareira, até o momento, é de 15,62 m³/s, segundo boletim da Sabesp. Um metro cúbico (m³) de água corresponde a 1 mil litros. Um documento enviado pela ANA ao DAEE destaca uma simulação do armazenamento do Cantareira até dezembro de 2016, mostrando que, para garantir 20% do volume útil até dezembro, a vazão máxima que pode ser retirada do sistema é de 19,5 m³/s.
Já a Sabesp, em nota, informou que iria realizar estudos técnicos para avaliar qual é o efeito da resolução conjunta da ANA e DAEE na retomada da normalidade do abastecimento de água. Segundo a companhia, a água do Sistema Cantareira é essencial “para o encurtamento dos períodos de redução de pressão na rede de distribuição”.
Redução de pressão – Desde o fim de dezembro, a companhia diminuiu, em média, sete horas diárias o período de redução de pressão na rede na capital paulista e em cidades da Grande São Paulo. A empresa disse que a prática é usual desde a década de 1990 para reduzir perdas por vazamentos, mas com a crise hídrica no estado a ação de racionamento oficial foi intensificada.
O Cantareira chegou a atender 9 milhões de pessoas só na Região Metropolitana de São Paulo, mas hoje abastece 5,4 milhões por causa da crise hídrica que atingiu o estado em 2014. Os sistemas Guarapiranga e o Alto Tietê absorveram parte dos clientes, para aliviar a sobrecarga do Cantareira durante o período de estiagem.
Pedido negado – Na sexta-feira (15), a ANA divulgou nota afirmando que havia negado o pedido da Sabesp para aumentar em 78% a retirada limite de água do Cantareira. A empresa havia proposto, há uma semana, em alterar o local de captação a ser fixado o limite de retirada, mudando da estação elevatória de Santa Inês para o túnel 5, que liga as represas Atibainha e Paiva Castro, e autorizar no novo ponto uma vazão de 19,5 m³/s.
Mas, segundo a análise da ANA, a represa Paiva Castro deve ser considerada como integrante do Cantareira para uma análise “mais realista” da capacidade de atendimento das demandas pelo sistema. Com a proposta da Sabesp, a agência entendeu que o volume retirado em Santa Inês chegaria a 24 m³/s (soma de 19,5 m³/s do túnel 5 mais 4,5 m³/s correspondentes às vazões afluentes da Paiva Castro.
Neste caso, o aumento efetivo nas vazões seria de 78% em relação ao que foi autorizado para janeiro de 2016 e de 60% com relação ao que foi autorizado para dezembro de 2015, já que agência federal e DAEE autorizaram aumento excepcional de retiradas em dezembro de 13,5 m³/s para 15 m³/s, a pedido da companhia, para atender às demandas de consumo de água nas festas de fim de ano na Grande São Paulo.
A empresa de abastecimento afirmou que subir a vazão pode melhorar a situação dos consumidores nas “pontas de rede, afetados pela redução de pressão. Como justificativa, a companhia alegou bons índices de chuva, e obras de combate à crise hídrica já concluídas ou em andamento.
Em nota, a agência federal fez uma contraproposta para liberar o aumento das vazões previstas para janeiro de 13,5 m³/s na estação elevatória de Santa Inês para 19,5 m³/s, ou seja, já considerando a vazão do reservatório Paiva Castro. Isso significa um aumento efetivo de 44% em relação ao autorizado para janeiro e de 30% com relação a dezembro, segundo a ANA.
O órgão regulador afirmou que, apesar do aumento do índice de chuva no Sistema Cantareira em dezembro e janeiro, o manancial ainda não retornou ao nível normal e defendeu que a operação de reservatório no período de chuva deve priorizar a recuperação das represas e garantir a segurança hídrica da população.
Recuperação até dezembro – A Agência Nacional de Águas também apresentou, no documento enviado ao DAEE, uma simulação do armazenamento do Cantareira até dezembro de 2016, mostrando que, para garantir 20% do volume útil até dezembro, a vazão máxima que pode ser retirada do sistema é de 19,5 m³/s.
No mês em que o Cantareira conseguiu recuperar o volume morto, a Grande São Paulo registrou a maior taxa de aumento no consumo de água em 2015. Em dezembro, 23% dos clientes da Sabesp consumiram mais do que a média, antes do início da crise hídrica, segundo balanço divulgado no dia 7 de janeiro.
Desse total, 14% dos clientes tiveram que pagar multa, outro recorde desde o começo da cobrança de sobretaxa, em fevereiro de 2015. O restante dos clientes (9%) não foi multado porque consome o volume mínimo de 10 mil litros por mês, explicou a Sabesp.
Especialistas ouvidos pelo G1 explicam que, mesmo com a saída do Cantareira do volume morto, a população deve continuar economizando porque a crise hídrica ainda não acabou em São Paulo e os reservatórios devem demorar para se recuperarem totalmente.
“Se tivermos os próximos três anos como o que estamos tendo agora, ficaríamos numa situação um pouco mais tranquila. Mas isso não significa que estejamos longe de uma nova crise. Se essa mudança no comportamento dos consumidores [redução no consumo] for permanente, a gente teria uma ‘folga’ no sistema”, afirmou o pesquisador da USP e Uninove, Pedro Cortês.
A própria Sabesp faz, no comunicado, um alerta sobre a importância de os clientes pouparem água, mesmo com o período de chuva e alta no nível das represas. Segundo a companhia de abastecimento, a estiagem de 2014 foi a maior registrada em mais de 80 anos na Região Sudeste. (Fonte: G1)