Iniciativa evita extinção do mico-leão-preto

Durante 65 anos, acreditou-se que o mico-leão-preto, Leontopithecus chrysopygus, estivesse completamente extinto, na natureza e em cativeiro. Depois de mais de seis décadas, para alegria de biólogos e ambientalistas, em 1970 foram avistados alguns poucos desses primatas em seu habitat primitivo, as florestas de Mata Atlântica remanescentes do Pontal do Paranapanema, em São Paulo. Em função das atividades desenvolvidas pelos pesquisadores do Instituto de Pesquisas Ecológicas (IPÊ), por mais de 32 anos, estima-se que existam, atualmente, cerca de 1,6 mil animais vivendo, livres, nas florestas do Paranapanema e em outras partes da Mata Atlântica.

O Instituto IPÊ, organização da sociedade civil mantida por meio de doações, surgiu no ano de 1992 exatamente em função do Projeto de Conservação do Mico-leão-preto, iniciativa do pesquisador Cláudio Valladares Pádua. “Como não existia nenhuma informação sobre a espécie, Cláudio iniciou as pesquisas de campo. Foi quando começou a se desenvolver um modelo de atuação para salvar esse primata da extinção”, relata a bióloga Gabriela Cabral Rezende, coordenadora de Projetos do agora Programa de Conservação do Mico-leão-preto. Por esse trabalho, o IPÊ ficou entre os finalistas do Prêmio Nacional de Biodiversidade, lançado em 2015 pelo Ministério do Meio Ambiente e pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).

Categoria favorável – Como resultado dos esforços da equipe do IPÊ, o mico-leão-preto deixou a categoria de criticamente em perigo, em 2008, passando à classificação de em perigo devido ao aumento no número de indivíduos e às ações de proteção a ele dispensadas, embora Gabriela Rezende alerte para a necessidade de se melhorar a proteção do habitat e a restauração da conectividade entre os fragmentos de Mata Atlântica.

Hoje, devido às iniciativas do Programa de Conservação do Mico-leão-preto, este mico está inserido em uma categoria mais favorável. Gabriela Rezende reforça que a maior ameaça à sobrevivência da espécie é a fragmentação das florestas. Este fato provoca o isolamento e declínio das populações restantes, resultado da degradação do seu habitat.

A bióloga do Instituto esclarece que as iniciativas do IPÊ visam garantir populações viáveis de mico-leão-preto, no longo prazo, em toda a sua área de distribuição, com maior disponibilidade, conectividade, qualidade e proteção do habitat, envolvendo, para isso, também a comunidade local na conservação do animal. Gabriela garante: “Felizmente, o trabalho de mais de três décadas com o mico-leão-preto culminou na redução do grau de ameaça à espécie”.

Resgate de primatas – Esse trabalho de três décadas teve início em 1983, quando a construção da hidrelétrica Rosana alagaria 10% da principal área de ocorrência da espécie, no Pontal do Paranapanema (SP). Com isso, foi necessário resgatar os primatas e exemplares de outras espécies e levá-los para outras áreas de Mata Atlântica, trabalho capitaneado pelo biólogo Cláudio Valladares Pádua.

“Foi esta ação que motivou, há 33 anos, o surgimento, inicialmente, do Projeto de Conservação do Mico-leão-preto (PCMLP) como sendo um projeto de resgate dos animais que viviam na área a ser alagada”, conta Gabriela Rezende. Durante o resgate, foram retirados da área oito grupos com cerca de cinco animais em cada um. Eram poucos, por isso a preocupação com a sobrevivência da espécie era justificada.

Gabriela Rezende explica que, à época, o mico-leão-preto era uma das espécies de primatas mais raras e ameaçadas do mundo. “E, atualmente, sua situação ainda é preocupante”, alerta a bióloga do IPÊ, pois a espécie integrava o Red Data Book, o livro vermelho das espécies ameaçadas, editado pela da União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais (UICN), constando como criticamente ameaçada de extinção.

Educação ambiental – Nos anos 1980, estimava-se que existiam cerca de 100 indivíduos vivendo na natureza. Era preciso, além das pesquisas, investir, também, em educação ambiental, conservação do habitat, criação de Unidades de Conservação e restauração florestal, com plantio de corredores conectados aos fragmentos de floresta remanescentes.

As pesquisas permitiram a identificação de populações de mico-leão-preto em outras partes de São Paulo, como na região central e no sudoeste do estado, além da bacia do rio Paranapanema. Com base numa pesquisa desenvolvida pelo IPÊ identificando os fragmentos prioritários para a conservação desse mico e da Mata Atlântica, surgiu a Estação Ecológica Mico-leão-preto, instituída pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).

Devido à sua importância, o mico-leão-preto é, hoje, oficialmente, espécie símbolo do estado de São Paulo, “reforçando a relevância deste primata para a conservação da Mata Atlântica como um todo”, recorda Gabriela Rezende. (Fonte: MMA)