Um procedimento pioneiro feito por médicos conseguiu restaurar, a partir de células-tronco, o olho de crianças vítimas de catarata na China.
Mais da metade dos casos de cegueira são causados por catarata, quando o cristalino – a lente natural existente no globo ocular – fica opaco.
Em geral, o tratamento de catarata consiste no implante de uma lente artificial.
Já o novo procedimento, descrito na revista especializada “Nature”, ativou células-tronco no olho para desenvolver uma nova lente.
Especialistas descreveram o tratamento como um dos maiores avanços na medicina regenerativa.
Tratamentos e complicações – Cerca de 20 milhões de pessoas no mundo todo perderam a visão devido à catarata. A doença é comum mais entre idosos, mas afeta algumas crianças desde o nascimento.
Os tratamentos tradicionais usam ultrassom para amolecer e quebrar a lente natural deficiente. Em seguida, ela é retirada do olho. Uma lente intraocular artificial é então implantada no olho, mas esse procedimento pode resultar em complicações, principalmente em crianças.
A nova técnica desenvolvida por cientistas da Universidade Sun Yat-sen, na China, e da Universidade da Califórnia em San Diego, Estados Unidos, remove a catarata da lente interna do olho através de uma incisão minúscula e deixa a superfície exterior, chamada de cápsula da lente, intacta.
A estrutura é então forrada com as células-tronco epiteliais, que geralmente reparam os danos.
A lente de células-tronco fica atrás da pupila e focaliza a luz na retina.
Segundo os cientistas, o novo procedimento foi feito em 12 crianças depois de testes feitos em coelhos e macacos terem sido bem-sucedidos.
Em oito meses, as lentes de células-tronco já chegavam ao tamanho normal.
“Esta é a primeira vez que uma lente completa foi regenerada. As crianças passaram pela cirurgia na China e continuam muito bem, com visão normal”, disse Kang Zhang, um dos pesquisadores.
O procedimento também teve uma taxa de complicações muito menor.
Mas, de acordo com o Kang Zhang, são necessários mais testes antes que esse tratamento se transforme no padrão para tratar crianças com catarata.
Crianças e idosos – O procedimento foi testado em crianças pois suas células-tronco epiteliais da lente do olho são mais jovens e têm uma capacidade maior de regeneração do que as de idosos.
Mas a grande maioria dos casos de catarata acontece em idosos.
Zhang afirma que já começaram os testes em pacientes mais velhos e os primeiros resultados “parecem promissores”.
Para Robin Ali, do Instituto de Oftalmologia do Universidade College London, mesmo ainda estando na fase de testes, o trabalho dos cientistas chineses e americanos é “formidável”.
“Esta nova abordagem oferece uma perspectiva muito melhor de tratamento para a catarata pediátrica, porque resulta na regeneração de uma lente normal que cresce naturalmente”, afirmou.
Para Ali pode ser mais difícil conseguir resultados parecidos em adultos, mas o impacto pode ser grande.
“Pode ser superior às lentes artificiais implantadas atualmente pois as lentes naturais podem permitir que a pessoa enxergue em distâncias diferentes de forma mais eficaz”, afirmou.
“O estudo é uma das maiores conquistas no campo de medicina regenerativa até o momento. É o melhor da ciência”, disse Dusko Ilic, palestrante em ciência de células-tronco no King’s College de Londres.
Potencial – Kang Zhang acredita que usar células-troncos dos olhos tem um “grande potencial” para tratar uma grande variedade de doenças além da catarata, como degeneração macular e glaucoma.
Um outro estudo realizado pela Universidade de Osaka, no Japão, e pela Universidade de Cardiff, na Grã-Bretanha, usou células-tronco para produzir outros tecidos do olho.
Neste estudo os cientistas conseguiram produzir uma série de tecidos oculares incluindo os que fazem parte da córnea, conjuntiva, lente e retina.
“Nosso trabalho não apenas tem potencial para o desenvolvimento de células para tratamento de outras partes do olho, mas também pode estabelecer a base para testes humanos no futuro e transplantes (…) para restaurar a função visual”, disse Andrew Quantock, um dos pesquisadores. (Fonte: G1)