Conseguir obrigar o corpo de infantaria da Marinha dos Estados Unidos a sair em retirada não está ao alcance de muitos.
Fazê-lo sem qualquer confronto militar é no mínimo surpreendente.
E que os responsáveis por esta mudança de planos sejam tartarugas do deserto que levam dias para cobrir apenas 1,5 km de distância é impressionante…e possível.
A infantaria da Marinha dos EUA usa terrenos onde há condições semelhantes a situações de guerra para treinamentos. O deserto é um deles.
É o caso da base que a Marinha tem em Twentynine Palm, um povoado do condado de San Bernardino, no deserto de Mojave, na Califórnia.
A ideia era ampliar a base para organizar uma missão especial de formação e treinamento com tanques e armas pesadas durante todo o mês de agosto.
No entanto, a presença na área de mais de 1.000 tartarugas do deserto fez o Exército reconsiderar os planos.
No início de março, foi anunciado um projeto de US$ 50 milhões para transportar por ar cada uma dessas tartarugas a uma reserva federal na localidade vizinha de Barstow.
Mas o medo de prejudicar os animais fez o projeto ser suspenso, pelo menos até que uma alternativa seja encontrada.
Tartarugas ameaçadas – Também contribuiu para o cancelamento do projeto o pedido do Centro de Diversidade Biológica, que mostrou preocupação com o impacto que a transferência poderia ter sobre esses animais já vulneráveis.
Tartarugas do deserto adultas podem pesar quase 7 kg e medem cerca de 25 centímetros de comprimento, embora alguns possam passar dos 35 centímetros.
Eles passam a maior parte de sua vida escondido em buracos, dos quais saem para comer e se reproduzir.
Nas últimas décadas, o número de exemplares diminuiu a tal ponto que as organizações de conservação soaram um alarme e em 1990 o Serviço Americano de Pesca e Fauna Silvestre (USFWS, na sigla em Inglês) adicionou o animal à lista de espécies ameaçadas.
Esta qualificação oficial obriga as agências federais a trabalharem em conjunto para estabilizar sua população.
“Nas últimas três décadas, perdemos até 90% da população de tartarugas do deserto”, disse à BBC Mundo Debra Hughson, chefe do escritório de Ciência e Recursos da Reserva Nacional de Mojave.
Hughson explica que a espécie está ameaçada por uma combinação de fatores, dos quais cita:
– A superpopulação de corvos
– Atropelamentos por carros
– A presença de predadores, como coiotes, raposas e até cães abandonados
– Doenças respiratórias
– Plantas invasoras que produzem problemas nutricionais
– Operações militares
Sem dúvida, a atividade humana, especialmente o tráfego rodoviário, é uma das maiores ameaças para a espécie.
As tartarugas do deserto andam longas distâncias em busca de água e comida e atravessam rodovias que cruzam seu território.
Eles também se sentem atraídas pelas poças que se formam no asfalto durante as tempestades.
Por isso, os conservacionistas estão pedindo aos motoristas que respeitem os limites de velocidade e se certifiquem de que não haja tartarugas atravessando a estrada, especialmente durante o tempo chuvoso.
A transferência dos animais para outro habitat poderia ser o fim da espécie.
“O nosso papel principal,” diz Hughson, “é proteger o habitat das tartarugas de outras ameaças para manter uma população estável e, com sorte, conseguir um crescimento”.
“Colaboramos com o Bureau de Gestão das Terras para colocar cercas em estradas e evitar impactos diretos de veículos, reduzindo a mortalidade produzida por atropelamentos “.
Futuras negociações – Por sua vez, os militares não descartam fazer seu treinamento no local.
O porta-voz da base de Twentynine Palms, capitão Justin E. Smith, disse por e-mail que a missão “não terá um impacto negativo nas tartarugas do deserto.”
Segundo ele, a Marinha “vai obedecer todas as exigências ambientais”.
O treinamento de agosto será de grande escala, com três batalhões operando com munição real e na situação extrema do calor do deserto, disse Smith.
Especialistas da USFWS e representantes da Marinha irão se reunir para ver como esta “missão de guerra” pode ser realizada sem que os soldados coloquem suas botas ou tanques em cima das tartarugas. (Fonte: G1)